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175 países

Turismo é o 'vilão' das emissões mundiais de gases do efeito estufa

Aviação, energia elétrica e veículos a gasolina são responsáveis por 8,8% das emissões de gases do efeito estufa, aponta artigo científico publicado na revista Nature

14/12/2024 - 10:55 Por Wilson Lopes

Em novembro de 2021, 850 organizações (governos, associações, entidades, operadores turísticos) se tornaram signatárias da Declaração de Glasgow, celebrada na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, na Escócia. 

Chancelada pela Organização Mundial do Turismo (OMT) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), a declaração previa o compromisso global de reduzir as emissões de gases de efeito estufa pela metade até 2030 e atingir o Net Zero [zero emissões líquidas de carbono (CO2) e de outros gases de efeito estufa, como metano e óxido nitroso] o mais rápido possível, antes de 2050.

A meta é ousada, pois, “historicamente, a maioria dos destinos demonstrou uma incapacidade de dissociar o crescimento da demanda turística do aumento das emissões do turismo”, relata a introdução do artigo “Drivers of global tourism carbon emissons”, publicado na revista científica britânica ‘Nature’, uma das mais prestigiadas do mundo.

Assinado por Ya-Yen Sun, Futu Faturay, Manfred Lenzen, Stefan Gössling & James Higham, o artigo, publicado em dezembro de 2024, usa perfis de gastos em turismo de 175 países e pontua que as emissões globais do turismo cresceram 3,5% ao ano entre 2009/2019, o dobro da economia mundial, ou 8,8% do total de emissões globais de gazes do efeito estufa (GEE), em 2019. E, na contabilidade global, os vinte países com maiores emissões contribuem com três quartos da pegada global.

Pegadas de carbono do turismo de acordo com a contabilidade baseada na residência (RBA) e a contabilidade baseada no destino (DBA).

Os autores reconhecem que as viagens desempenham um papel significativo na sociedade contemporânea. “Antes da pandemia da COVID-19, o turismo global contribuía com US$ 6 trilhões em produção econômica anual e era um dos setores de crescimento mais rápido do mundo por dez anos consecutivos. A recuperação do turismo pós-pandemia foi rápida e o turismo global provavelmente ultrapassará novamente 20 bilhões de viagens em 2024.”

Contudo, explicam, “este setor é fundamental para as trajetórias globais de emissões e deve estar alinhado com o Acordo de Paris [limitar o aquecimento global do planeta a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais]”. E sinalizam que órgãos globais de governança do turismo, como a ONU, já não devem apenas basear suas ambições climáticas em ganhos de eficiência tecnológica e melhorias de infraestrutura, pois isso será insuficiente para alcançar o Net Zero. 

Então, propõem uma medida mais dura: reduzir a demanda por viagens, particularmente entre países com altas emissões, em relação a viagens aéreas de longa distância, e implementação de limites de volume de turismo.

No artigo, os autores apresentam as suas razões, cálculos e metodologias utilizadas para chegar a esta previsão. 

Veja alguns tópicos do artigo “Drivers of global tourism carbon emissons”:

  • Mitigar a pegada de carbono do turismo, no entanto, é uma tarefa imponente. Sua intensidade de carbono, definida como emissões por dólar de vendas, foi 20% maior do que a média da economia global em 2013.
     
  • O turismo ultrapassou o crescimento da economia global, aumentando de US$ 3,5 trilhões em 2009 para US$ 6,0 trilhões em 2019 (US$ 5,1 trilhões, preço constante de 2009). Isso representa uma taxa de crescimento anual de despesas de 5,5% (3,8%, preço constante de 2009). Esse consumo está associado a uma pegada de carbono do turismo de 5,2 Gt CO2 -e em 2019.
     
  • A pegada de carbono do turismo se expandiu a uma taxa (3,5% a.a.) duas vezes maior que a da economia global (1,5% a.a.) durante esse período, destacando seu status como um setor desafiador para descarbonizar. Se a mesma taxa de crescimento for mantida nos próximos anos, espera-se que as emissões do turismo dobrem a cada 20 anos.
     
  • O turismo é intensivo em carbono. Cada dólar ganho no turismo gera 1,02kg de emissões de GEE em 2019. Isso é aproximadamente 4 vezes maior do que o setor de serviços (0,24kg/$) e 30% maior do que a economia global (0,77kg/$). 
     
  • De uma perspectiva setorial, a maioria das emissões líquidas foi gerada pelo transporte aéreo (0,27Gt) e serviços públicos (0,26Gt). 
     
  • O uso de veículos particulares por viajantes também contribuiu substancialmente, com motores de combustão estimados para produzir emissões líquidas de 0,29Gt e produção de gasolina resultando em 0,13Gt.
     
  • A quantidade de dinheiro gasta em acomodação, gastronomia e transporte tem aumentado constantemente ao longo do tempo. A despesa per capita com turismo aumentou de US$ 536 per capita em 2009 para US$ 672 em 2019 (preço constante de 2009), e isso fez com que as emissões turísticas aumentassem em 1,4 Gt de CO2 -e.
     
  • Órgãos globais de governança do turismo, incluindo o Turismo da ONU e o Conselho Mundial de Viagens e Turismo, há muito tempo baseiam suas ambições climáticas em ganhos de eficiência tecnológica e melhorias de infraestrutura. Nossas descobertas fornecem evidências concretas de que focar apenas em ganhos de tecnologia e eficiência é insuficiente para atingir marcos de net-zero. 
     
  • Medidas fortes para reduzir a demanda por viagens são urgentemente necessárias. A urgência de tais medidas é particularmente aguda entre países com altas emissões e em relação a viagens aéreas de longa distância. 
     
  • A definição e implementação de limites de volume de turismo serão inevitáveis sob a trajetória atual de emissões se o turismo for alinhado com as metas globais de net-zero.

Acesse o artigo ‘Drivers of global tourism carbon emissons’>>

Acesse a Declaração de Glasgow sobre a Ação Climática no Turismo>>

@nature @futufaturay

 

 


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