Amparados pela física, matemática, ciência e, principalmente, pelas tecnologias do século 21, alguns pesquisadores estão dispostos a reescrever os primeiros capítulos do ‘descobrimento’ do Brasil pelos navegantes portugueses.
O ponto de convergência entre eles crava o marco do descobrimento no Cabo de São Roque, em Touros (RN), e não em Porto Seguro (BA), o que daria ao Pico do Cabugi (590m), na cidade de Angicos, o título de Monte Pascoal, a primeira porção de terra avistada por Pedro Álvares Cabral e sua tripulação, no dia 22 de abril de 1500.
O escritor Lenine Pinto, que morreu de pneumonia em 2019, aos 89 anos, deixou três obras defendendo a tese: “A Reinvenção do Descobrimento” (1998), “Ainda a questão do Descobrimento” (2000), e “O Mando do Mar” (2015), todos publicados pelo Sebo Vermelho.
O professor José Luís Conceição Silva, diretor do Centro Brasileiro de Estudos Portugueses da Universidade de Brasília (UnB), comentando o “O Mando do Mar”, disse que “ficou-lhe a convicção de não poder mais acreditar na velha ‘verdade histórica’ de que Cabral aportou no sul da Bahia”.
“O mais recente pesquisador a abordar o tema é o escritor e engenheiro Manoel Cavalcanti Neto. Ele lançou esta semana o livro “Brasil 1500 – A Verdade”, no qual segue os passos de Lenine, porém com uma interpretação independente. O autor defende que a elevação registrada na carta de Pero Vaz de Caminha, “um monte muito grande, alto e redondo” pode não ser o Pico do Cabugi, mas sim a Serra Verde, região de João Câmara, Mato Grande. Em mais de 50 pequenos capítulos, são pontuados temas como a era dos descobrimentos, grandes navegações e o descobrimento do Brasil no Rio Grande do Norte”, relata a jornalista Cinthia Lopes para a Tribuna do Norte.
Evidências
Em publicação no Blog Bruno Giovanni, a professora-doutora Rosana Mazaro, do Departamento de Turismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ratifica a teoria. Ela, que é velejadora, une conhecimentos científicos e práticos para embasar cinco evidências para provar que o Brasil começou pelo RN.
1 - “A primeira é pelas correntes marítimas que direcionariam as caravelas naturalmente ao RN. Há uma dificuldade imensa para se chegar da Europa à Bahia e, em contraponto, facilidade para o RN. Há navegadores, sem exagero, que vão até Dakar (na África) para se aproximar do Brasil tamanho a força das correntes”.
2 - A segunda evidência apontada pela professora é o monte avistado pelos portugueses ser o Pico do Cabugi, na região central do RN. Pescadores nativos até hoje tomam o Pico como referência para voltar à terra. Enquanto o Monte Pascal, na Bahia, sequer é um “monte”, mas uma torre, cortada e sem “pico”.
3 - A terceira seria a presença de “aguada” no litoral, conforme consta na carta do descobrimento. Aguada seria água doce, presente nas proximidades do Marco de Touros e inexistente em Porto Seguro, na Bahia.
4 - A penúltima evidência seria o Marco de Touros, diferente do fincado na Bahia. O daqui é esculpido com símbolos e brasões semelhantes ao marco chantado no município de Cananéia, em São Paulo, que seria o segundo marco português no Brasil.
5 - Por último, o argumento mais evidente apontado pelos estudiosos: consta no mapa português que eles navegaram duas mil léguas ao Sul do país para fincar o segundo marco. Essa distância corresponde exatamente o percurso do Estado potiguar a São Paulo. Caso partisse da Bahia, o segundo marco estaria fincado na Argentina.
Acesse o blog ‘O Brasil foi descoberto pelo Rio Grande do Norte? Estudiosos e historiadores lançam teoria e evidências’>>