De Utrecht, Reino dos Países Baixos - Após conquistar a autossustentabilidade na produção de energia, eliminando a necessidade de impostar o gás russo, o próximo passo do Reino dos Países Baixos (antiga Holanda) será transformar 100% da sua matriz em energia limpa e renovável até o ano de 2050. A pequena extensão territorial (cabem 203 ‘Holandas’ dentro do Brasil) e a escassez da luz do sol (cerca de um mês aberto por ano) aumentam o desafio.
Para alcançar a meta e não faltar energia no meio do caminho, o governo holandês desembolsará cerca de 12 bilhões de euros nos próximos 20 anos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias. A Energie Beheer Nederland (EBN) lidera a ação. Criada em 1973 pelo governo para administrar a exploração, produção e transporte de petróleo e gás, a empresa respira energia renovável.
O gestor de projetos Stijn Santen explica que a EBN está envolvida em três áreas específicas: a transição do gás, a transição do calor e os sistemas de armazenamento e transporte de CO. Um dos principais projetos da instituição é o Carbon Capture and Storage (CCS), que consiste em capturar e armazenar CO nos campos vazios de gás no Mar do Norte.
Com pouco território destinado para a agricultura, uma grande preocupação do governo é evitar a competição da geração de energia limpa com a produção de alimentos. Por isso, é comum ver pelo país os tradicionais moinhos de vento (patrimônios mundiais da Unesco) conviverem amigavelmente com seus descendentes da nova geração, as torres de energia eólica. “O esforço está em criar sinergia entre natureza e operação industrial”, observa Santen.
Uma das opções é substituir o carvão mineral pela biomassa nas usinas termelétricas. Mas, para cumprir a meta, será necessário importar parte da biomassa consumida no país. Aí entra o Brasil no processo. A produção de celulose e cana-de-açúcar gera abundância de resíduos e bagaço, que poderia ser aproveitada pelos holandeses. Um projeto experimental, com a utilização da fibra do coco, em Petrolina (PE), já está em estágio de implantação.
O estudo “A bio-based economy in the Netherlands”, da Universidade de Utrecht, pondera que até 2030 a Holanda terá de substituir pelo menos 30% dos produtos fósseis por biomassa.
Renovável X não-renovável
O estudo ‘Matriz Energética Nacional 2030’, do Ministério de Minas e Energia (MME), define como fonte de energias renováveis a hidroeletricidade (usinas hidrelétricas), biomassa, energia eólica, álcool carburante a partir da cana-de-açúcar, bioenergia e o biocombustível. Como energias não-renováveis estão o carvão mineral, gás Natural, energia nuclear, petróleo e gás natural.
Em todo o mundo, conforme o ‘World Energy & Climate Statistics – Yearbook 2023’, da consultoria Enerdata, a participação das energias renováveis no mix energético global aumentou de 20% em 2010 para 30% em 2022, com destaque para a evolução de países com grandes recursos hidroelétricos, como o Brasil, a Colômbia, o Canadá, a Nova Zelândia, a Suécia ou a Noruega.
O ranking da produção de energia limpa da Enerdata é liderado pela Noruega (98,5%), Brasil (89,2%) e Nova Zelândia (86,6%). No estudo World Energy & Climate Statistics o Reino dos Países Baixos figura com 39,7% de sua matriz baseada em energias renováveis.
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