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"Casa Comum"

Francisco, o 'Papa Verde'

Nos 12 anos do seu pontificado, Francisco demonstrou profunda preocupação para com a Amazônia e seus povos

23/04/2025 - 10:50 Por Júlio Caldeira, Vatican News

Desde o início de seu pontificado em 13 de março de 2013, o Papa Francisco tem enfatizado a importância de cuidar do planeta, que ele chama de nossa "Casa Comum". Por meio de discursos, mensagens e encontros, ele expressou grande carinho e preocupação pela Amazônia e seus povos. Apresentamos 12 momentos-chave em que ele abordou esta causa:

1. Sejam guardiões da criação

Em seu primeiro discurso como Papa (19 de março de 2013), Francisco pediu que a humanidade fosse guardiã da criação e protegesse a natureza e os outros seres humanos. Ele enfatizou a importância da gentileza e da ternura como elementos essenciais nesse compromisso.

“Gostaria de pedir, por favor, a todos aqueles que ocupam cargos de responsabilidade na esfera econômica, política ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos ‘guardiões’ da criação, do projeto de Deus inscrito na natureza, guardiões dos outros, do meio ambiente; não permitamos que os sinais de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo. Mas, para “guardar”, devemos também cuidar de nós mesmos. Lembremo-nos de que o ódio, a inveja e o orgulho poluem a vida. ‘Guardar’, portanto, significa vigiar os nossos sentimentos, o nosso coração, porque é daí que vêm as boas e as más intenções: as que constroem e as que destroem. Não devemos ter medo do bem, aliás, nem mesmo da ternura.”

2. Fortalecer o “rosto amazônico” da Igreja

Durante sua viagem ao Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude (27 de julho de 2013), o Papa pediu o fortalecimento da presença pastoral na região amazônica, promovendo um clero indígena adaptado às condições locais.

“O trabalho da Igreja precisa ser ainda mais incentivado e relançado [na Amazônia]. Instrutores qualificados, especialmente professores de teologia, são necessários para consolidar os resultados alcançados na formação de um clero indígena, para ter também padres adaptados às condições locais e para fortalecer, por assim dizer, o 'rosto amazônico' da Igreja.”

3. Alegria pela criação da REPAM

Em setembro de 2014, o Papa celebrou a fundação da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) como uma iniciativa fundamental para a defesa da Amazônia e de seus povos.

“Alegrando-se por ver atendido seu pedido referente à criação desta rede inovadora, voltada especificamente para as questões ecológicas da Amazônia, o Papa Francisco lhe deseja muito sucesso, lembrando a todos que a rede digital deve ser um lugar rico de humanidade: não uma rede de cabos, mas de seres humanos. (…) Com a esperança de que o trabalho cotidiano daqueles que colaboram na Rede Eclesial Pan-Amazônica contribua para ampliar os espaços de compreensão e solidariedade entre homens e mulheres, refletindo constantemente aquela “Luz das Nações” – Cristo – que resplandece no rosto da Igreja universal e das Igrejas locais, o Santo Padre lhes concede com amizade e confiança a implorada Bênção Apostólica.”

4. Laudato Si': Um chamado para cuidar da nossa casa comum

Com a encíclica Laudato Si' (15 de maio de 2015), Francisco reafirmou a necessidade de uma ecologia integral, observando que "tudo está conectado" e defendendo mudanças estruturais na economia e na política para proteger o planeta.

A proposta central é uma ecologia integral que “incorpore o lugar peculiar do ser humano neste mundo e sua relação com a realidade que o cerca” (LS 15), e o “compromisso com outro modo de vida” (LS 203) que exerça “uma pressão saudável sobre aqueles que detêm o poder político, econômico e social” (LS 206). Apresenta a necessidade de cuidar do planeta, que se baseia na relação entre Deus, o ser humano e a natureza, onde “tudo está interligado” (LS 138).

5. Pedagogia da ecologia integral

Em Quito, Equador (7 de julho de 2015), o Papa destacou a responsabilidade de preservar a Amazônia para as gerações futuras, promovendo uma consciência ecológica global.

“Estamos aqui hoje reunidos irmãos e irmãs dos povos indígenas da Amazônia equatoriana. (...) E aqui o Equador — juntamente com os demais países com fronteiras amazônicas — tem a oportunidade de praticar a pedagogia de uma ecologia integral. Recebemos o mundo como herança de nossos pais, mas lembremo-nos também de que o recebemos como empréstimo de nossos filhos e das gerações futuras, às quais devemos devolvê-lo! E melhorá-lo. E isso é gratuito! Da fraternidade vivida na família nasce esse segundo valor, a solidariedade em sociedade, que não consiste apenas em dar a quem precisa, mas em sermos responsáveis uns pelos outros. Se vemos uns nos outros como irmãos, ninguém pode ser excluído, ninguém pode ser deixado de fora.”

6. Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação

Instituído em 1º de setembro de 2015, como acontece na Igreja Ortodoxa, este Dia convida os fiéis e as comunidades a renovarem seu compromisso com a proteção ambiental.

“O Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, que se celebrará anualmente, oferecerá a cada fiel e a cada comunidade uma preciosa oportunidade para renovar o seu compromisso pessoal com a sua vocação de guardiões da criação, oferecendo a Deus a ação de graças pela obra maravilhosa que nos confiou, invocando a sua ajuda para a proteção da criação e a sua misericórdia pelos pecados cometidos contra o mundo em que vivemos, (…) realizando iniciativas adequadas de promoção e animação, para que esta celebração anual seja um momento intenso de oração, de reflexão, de conversão e de adoção de estilos de vida coerentes.”

O Papa Francisco com os povos indígenas da Amazônia em Porto Maldonado, no Peru, em 2019: “A defesa da Terra não tem outro propósito senão a defesa da vida” (Vatican News)

7. Aprenda com os povos indígenas

Durante sua visita à Colômbia (7 de setembro de 2017), Francisco destacou a "sabedoria arcana" dos povos amazônicos e a necessidade de aprender com sua visão de vida e natureza.

Gostaria de dirigir uma reflexão aos desafios que a Igreja na Amazônia enfrenta, região da qual vocês se orgulham com razão, por ser parte essencial da maravilhosa biodiversidade deste país. (...) Penso, sobretudo, na misteriosa sabedoria dos povos indígenas amazônicos e me pergunto se ainda somos capazes de aprender deles a sacralidade da vida, o respeito pela natureza e a consciência de que a razão instrumental por si só não basta para realizar a vida humana e responder às suas questões mais inquietantes. Por isso, convido vocês a não abandonarem a Igreja na Amazônia. A consolidação de um rosto amazônico para a Igreja que aqui peregrina é um desafio para todos vocês, que depende do crescente e consciente apoio missionário de todas as dioceses colombianas e de todo o seu clero.

8. Convocação para o Sínodo da Amazônia

Em 15 de outubro de 2017, o Papa anunciou um sínodo especial para a região Pan-Amazônica, a ser realizado em outubro de 2019, com o objetivo de encontrar novos caminhos para a evangelização e a ecologia integral.

O objetivo principal desta convocação é identificar novos caminhos para a evangelização deste segmento do Povo de Deus, especialmente os povos indígenas, muitas vezes esquecidos e sem perspectiva de um futuro de paz, também devido à crise na floresta amazônica, pulmão vital do nosso planeta. Que nossos santos intercedam por este acontecimento eclesial, para que, em respeito à beleza da criação, todos os povos da terra louvem a Deus, Senhor do universo, e, iluminados por Ele, percorram os caminhos da justiça e da paz.

9. Defesa da vida, da terra e das culturas

Durante sua visita a Puerto Maldonado, Peru (19 de janeiro de 2018), Francisco denunciou ameaças contra povos indígenas e defendeu a proteção de seus direitos e territórios.

“Queria vir visitá-los e ouvi-los, estar juntos no seio da Igreja, compartilhar seus desafios e, com vocês, reafirmar um compromisso sincero com a defesa da vida, a defesa da terra e a defesa das culturas. Os povos indígenas da Amazônia provavelmente nunca foram tão ameaçados em seus territórios como agora. (...) Devemos romper com o paradigma histórico que considera a Amazônia como uma despensa inesgotável para os Estados, sem levar em conta seus habitantes. Considero essencial envidar esforços para gerar espaços institucionais de respeito, reconhecimento e diálogo com os povos originários; assumindo e resgatando a cultura, a língua, as tradições, os direitos e a espiritualidade que são seus. Um diálogo intercultural no qual vocês são os “principais interlocutores, especialmente quando se trata de fazer avançar grandes projetos que afetam as suas áreas” (LS 146).

10. Paz através da conversão ecológica

No Dia Mundial da Paz (1º de janeiro de 2020), o Papa vinculou a paz à necessidade de reconciliação ecológica, pedindo uma mudança na relação entre humanidade e natureza.

Diante das consequências da nossa hostilidade para com os outros, da nossa falta de respeito pela nossa casa comum e da exploração abusiva dos recursos naturais – vistos como instrumentos úteis apenas para o lucro imediato, sem respeito pelas comunidades locais, pelo bem comum e pela natureza – precisamos de uma conversão ecológica. O recente Sínodo sobre a Amazônia nos leva a renovar o apelo por uma relação pacífica entre as comunidades e a terra, entre o presente e a memória, entre as experiências e as esperanças. Este caminho de reconciliação é também uma escuta e uma contemplação do mundo que Deus nos deu para fazer da nossa casa comum.

11. “Querida Amazônia”: sonhos para a região

A exortação apostólica Querida Amazônia (12 de fevereiro de 2020) apresenta quatro sonhos: social, cultural, ecológico e eclesial, como pilares para um futuro sustentável e justo na região.

“Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos indígenas, dos últimos, onde suas vozes sejam ouvidas e sua dignidade promovida. Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a distingue, onde a beleza humana resplandeça de tantas maneiras diferentes. Sonho com uma Amazônia que guarde zelosamente a beleza natural avassaladora que a adorna, a vida transbordante que enche seus rios e florestas. Sonho com comunidades cristãs capazes de se doar e encarnar na Amazônia, a ponto de dar à Igreja novos rostos com características amazônicas” (QA 7).

12. Criação da CEAMA

Em resposta ao Sínodo da Amazônia, a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) foi fundada em 29 de junho de 2020. Essa estrutura sinodal envolve todo o Povo de Deus na missão da Igreja na região.

Isso é reforçado pelo pedido do Papa Francisco, juntamente com seus quatro sonhos para este território e para toda a Igreja, "que os pastores, os consagrados e as consagradas, e os fiéis leigos da Amazônia se comprometam com sua implementação" (QA 4). O cardeal Claudio Hummes lembrou que foi o próprio Papa Francisco quem propôs que a nova Conferência não fosse apenas episcopal, mas promovesse uma estrutura eclesial que "envolvesse todas as categorias do Povo de Deus, onde todos fossem membros". Isso foi confirmado por um quirógrafo enviado em 16 de dezembro de 2021: "Confirmo a criação da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), instituída com o reconhecimento formal da Congregação para os Bispos, datado de 9 de outubro de 2021. Sua criação implica o reconhecimento de sua personalidade jurídica eclesiástica pública" (Francisco).

Com esses e outros marcos, o Papa Francisco consolidou seu compromisso com a Amazônia, promovendo um modelo de Igreja que respeita, escuta e defende seus povos e sua biodiversidade.

 Os quatro sonhos “inadiáveis” do Papa Francisco sobre a Amazônia 

A exortação do Papa Francisco ‘Amazônia Amada’ expressa seu compromisso de abraçar conjuntamente os sonhos de lutar pelos direitos dos mais vulneráveis, incluindo os povos indígenas, para que suas vozes sejam ouvidas e sua dignidade assegurada.

Neste sentido, o Papa deu o exemplo de uma atitude genuína de escuta e respeito, e sobretudo de coragem, para que o Espírito sopre forte para nos ajudar a tecer conversões: 

  • pastoral – para uma Igreja em saída missionária, capaz de anunciar a alegria do Evangelho respeitando as culturas;
  • cultural - não ter medo da diversidade e reconhecer a presença de Deus neste diálogo intercultural com os povos e comunidades da Amazônia; 
  • ecológico - descobrindo o rosto de Deus em toda a criação, sua majestade e vulnerabilidade na Amazônia e seus povos, e no chamado urgente por mudanças socioambientais; 
  • sinodal - caminhar mais juntos, ouvindo as pessoas e seu senso de Deus, e criar novas possibilidades que permitam que o Reino que Jesus trouxe seja uma possibilidade.

Acesse a EXHORTACIÓN APOSTÓLICA POSTSINODAL - QUERIDA AMAZONIA (DEL SANTO PADRE – FRANCISCO)>>

Assista ao vídeo “Querida Amazonia: el sueño social del Papa”>>
 


 


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