A cidade de Maricá (197.277 habitantes, Censo/2022), distante 105km do Rio de Janeiro, ostenta o 7º maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Brasil (R$ 511.810,82), em função dos royalties da exploração de petróleo pela Petrobras.
Parte destes recursos estão sendo investidos pela Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar), vinculada à Prefeitura de Maricá, no projeto Farmacopeia Mari’ká, cujo objetivo é democratizar o acesso a plantas medicinais e à fitoterapia (forma de tratamento que utiliza ervas medicinais para tratar e prevenir doenças), visando o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
Criado em 2022, o Farmacopeia Marik’á busca, também, o desenvolvimento econômico e social, com a inclusão da agricultura familiar na produção de espécies selecionadas. Além de realizar pesquisas e instalação de tecnologia nas plantações e cultivos, o projeto oferece cursos de capacitação na Fazenda Pública Jaquin Piñero e produz manuais de instrução para a utilização dos produtores e comunidades envolvidas.
Nos cursos, são abordadas, por exemplo, as propriedades e usos das plantas: babosa, alcachofra, isoflavona-de-soja, garra-do-diabo, espinheira-santa, hortelã, guaco, plantago, cáscara-sagrada, salgueiro, aroeira e unha-de-gato.
A fazenda conta com duas estufas e dois viveiros de plantas medicinais, incluindo o cultivo de cogumelos com propriedades ativas para tratar distúrbios de sono, depressão e outras enfermidades. Todo o cultivo é certificado como orgânico desde a aquisição da fazenda pela Prefeitura de Maricá.
O nome ‘Farmacopeia Mari’ká’ tem raízes indígenas, sendo ‘Mari’ká’ o nome indígena da planta que originou a palavra ‘Maricá’. Essa escolha visa ressaltar a identidade indígena que permeia a história da cidade.
Conhecimentos tradicionais
Uma das ações do ‘Farmacopeia Mari’ká’ é o projeto ‘Farmácia Viva’ de Maricá, fruto de parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Nela, cerca de 30 espécies de plantas medicinais são cultivadas em 4 mil metros quadrados, na Fazenda Nossa Senhora do Amparo, da Codemar. Além da produção de medicamentos, a iniciativa promove a qualificação de pequenos produtores rurais para o plantio dessas ervas.
“Com a Farmácia Viva, pretendemos promover a saúde para a população, mas também a geração de renda para os produtores. O próprio projeto vai fornecer mudas das plantas certificadas aos agricultores associados e comprar a produção deles para processar”, explica o professor de Agronomia da UFRRJ e coordenador do Farmacopeia Mari’ká, João Araújo.
A partir dos conhecimentos tradicionais das plantas nativas, são produzidos remédios com fungos medicinais e óleos essenciais para loções repelentes, e até mesmo medicamentos para animais de estimação. “Temos também no escopo do Farmacopeia Mari’ká a produção voltada para a área animal, sobretudo os pets, que hoje fica completamente desassistida quando se fala em medicamentos naturais”.
Todos os produtos desenvolvidos dentro do projeto são gratuitos e aqueles que não exigem receita médica já são distribuídos, como chás, xaropes de guaco e loções repelentes de citronela. “Os demais produtos estão sendo produzidos, mas serão distribuídos a partir das orientações do farmacêutico do projeto e da Secretaria de Saúde do município”, informou o coordenador à Agência Brasil.
Segundo a prefeitura, a distribuição não ocorre em grande escala, mas em feiras e palestras. "São produzidos sabonetes líquidos, óleos essenciais, spray de citronela e álcool gel aromatizado, entre outros produtos. A distribuição dos produtos está prevista para o fim do ano em parceria com o SUS, como um serviço fitoterápico e com acompanhamento farmacêutico".
Segundo o professor Araújo, o município foi escolhido por já ter ações nas áreas de agroecologia, agricultura, renda, desenvolvimento social e produção local de alimentos. “Temos nesse projeto uma estratégia de melhoria da qualidade de vida da população e a geração de renda para além dos royalties de petróleo que Maricá já recebe, então estamos preparando a cidade para uma economia local, regional e sustentável no futuro”, disse. A ideia é que o projeto sirva de modelo para cidades de outras regiões brasileiras.
Araújo informou que a Farmácia Viva está em processo de finalização, com apresentação aos agentes de saúde de Maricá e de municípios vizinhos, por meio de treinamentos para médicos e veterinários. Concluída essa etapa, a Fazenda Nossa Senhora do Amparo será preparada para receber farmacêuticos e a população.
Cura pelas plantas
- Alecrim – para o fígado e depressão
- Aroeira – azia, gastrite e cistite
- Arruda – dores reumáticas e varizes
- Camomila – calmante, indutora do sono
- Capim limão – estresse, ansiedade
- Capuchinha – antibiótico, tônico e digestivo
- Carqueja – pressão e diabetes
- Cavalinha – diurético, osteoporose
- Citronela – repelente, aromaterapia
- Endro – imunidade, anemia
- Erva baleeira – anti-inflamatório, dores
- Erva cidreira – pressão alta, vitaminas B e C
- Guaco – tosse, asma, bronquite
- Hortelã pimenta – reduz gases, digestivo
- Jaborandi – glaucoma, tônico capilar
- Lavanda – ansiolítico, aromaterapia
- Losna – vermífugo, gases
- Macela – relaxamento, estresse
- Manjericão – enxaqueca, insônia, acne
- Maricá – asma, bronquite, febre
- Menta – detox, respiratório
- Orégano – imunidade, cólica menstrual
- Pitanga – diabetes, vitaminas A, B e C
Com informações, Francielly Barbosa e Cristiane Ribeiro, Agência Brasil.
@farmacopeiamarika @prefeiturademarica
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