A cidade de Faina (7.070 pessoas, 205km de Goiânia), na região noroeste de Goiás, reúne a maior proporção de pessoas com xeroderma pigmentoso do mundo. A incidência ocorre no povoado de Araras, que fica a 40 quilômetros da sede do município, e afeta um em cada 40 habitantes. Nos Estados Unidos e Europa a proporção é de um caso para um milhão de pessoas, segundo a Associação Brasileira de Xeroderma Pigmentoso (AbraXP).
Há dez anos, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) estudam a manifestação da doença no povoado, que é “genética autossômica e recessiva”, ou seja, “não ligada ao sexo e herdada pelos pais, causada pela falta de um mecanismo de reparo a lesões no DNA provocadas pela luz solar”.
O estudo ‘The Iberian legacy into a young genetic xeroderma pigmentosum cluster in central Brazil’ sugere que as mutações que atingem o povoado de Araras chegaram ao Brasil por conta da colonização europeia, há cerca de 200 anos.
De acordo com o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás (COSEMS/GO), “as lesões decorrentes do xeroderma pigmentoso ocorrem nas áreas expostas à luz solar e, geralmente, iniciam-se nos primeiros anos de vida. A pele, em indivíduo ainda criança, apresenta um número aumentado de sardas e manchas em aspecto esbranquiçadas. Seus olhos também possuem forte sensibilidade à luz. O dano solar, quando o paciente não se protege com roupas, chapéus, óculos escuros e filtro solar, pode evoluir para lesões pré-malignas (queratoses actínicas) e malignas de pele (câncer da pele). Além disso, podem apresentar maior incidência de tumores sistêmicos, quando comparados com a população em geral”.
Centro de estudos
Atento à questão, o Hospital de Câncer Francisco Camargo (HCG) instalará um Centro de Estudos e Pesquisas sobre o xeroderma pigmentoso, em parceria com a Associação Médica de Goiás (AMG) e a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG).
O médico Waldemar Naves do Amaral, diretor da Faculdade de Medicina da UFG que presidirá o centro de estudos, explica que, na prática, ele estimulará o desenvolvimento de pesquisas dentro de um modelo metodológico que possa gerar resultados consistentes.
"É um convênio importantíssimo, porque a universidade precisa oferecer a prática para os seus alunos da graduação e da pós-graduação, e possibilita que os alunos coloquem o conhecimento em prática junto à comunidade. Ao mesmo tempo, ele leva a assinatura de uma das universidades mais importantes desse país, a UFG, para o hospital. É um tipo de ação que é boa para todos”, concluiu.
Além do estudo e do atendimento especializado, o centro será voltado para ampliar o potencial acadêmico do estado com o fornecimento de bolsas para mestrado e doutorado, em parceria com a Faculdade de Medicina da UFG. "É realmente uma maioridade que o hospital atinge, e a ciência e a academia andam junto com o desenvolvimento e aprimoramento da assistência às pessoas que precisam”, destacou o diretor-presidente do Hospital de Câncer Francisco Camargo, Wagner Miranda, ao informar que o desenvolvimento acadêmico é um dos pilares fundamentais do hospital desde a sua idealização, constando inclusive em seu primeiro estatuto.
Para Washington Luiz Ferreira, presidente da Associação Médica de Goiás e gerente de ensino de pesquisa do Hospital das Clínicas da UFG, um centro de ensino e pesquisa leva ao avanço do conhecimento, da tecnologia, das novas práticas. “Não existe grande serviço na medicina que não tenha um centro de ensino de pesquisa por trás”, destacou.
“Com a instalação do centro de estudos e pesquisa, o grupo nativo de Goiás portador da doença terá a devida atenção e cuidado. É uma comunidade menos favorecida e mais desassistida. É preciso que cuidemos deles, é preciso que trabalhemos para podermos protegê-los”, pontuou.
Os projetos passarão pelas etapas agora de aprovação, definição de bolsas e de orientações científicas para que acadêmicos começam a desenvolver os seus registros, suas análises, estudos, interpretações e as definições dos estudos acadêmicos, informou Wagner Miranda.
HC Francisco Camargo
Tendo como embaixador o cantor Zezé de Camargo, o Hospital de Câncer Francisco Camargo é uma entidade beneficente, sem fins lucrativos, considerada de utilidade pública. O local já está em operação, atendendo casos de baixa complexidade. O projeto iniciou a sua jornada em 2014, e será uma das maiores unidades de atendimento a câncer do País.
Seu funcionamento começou em 2021 com a inauguração do primeiro módulo, a policlínica, com 204 metros quadrados, que oferece gratuitamente exames de mamografia, ultrassonografia, eletrocardiografia, exames laboratoriais, além de consultas. Toda a obra está sendo feita com recursos da comunidade, que tem se engajado no projeto. Em breve, uma nova ala será inaugurada, ampliando os atendimentos.
Com informações Elysia Cardoso, Comunicação Sem Fronteiras.
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Rod. GO-070 - KM 47, Zona Rural - Inhumas/GO. (62) 3988-7557
Leia o estudo ‘The Iberian legacy into a young genetic xeroderma pigmentosum cluster in central Brazil’>