A Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP), referendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), resguarda a data de 10 de setembro como o ‘Dia Mundial da Prevenção do Suicídio’.
O evento representa um compromisso global para chamar a atenção e aumentar a conscientização sobre o tema, pois, a cada ano, mais de 700 mil pessoas tiram a própria vida no mundo, o que representa, em média, um caso a cada 40 segundos.
O suicídio é a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Há indícios de que, para cada pessoa que morre por suicídio, é provável haver mais de 20 outras que tentam dar fim à própria vida.
No Brasil, os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), revelam que, em 2022, o País teve 16.262 casos de suicídios, uma média de 44 por dia. Em 2021, foram 14.475, um crescimento de 11,8% em apenas um ano.
Em termos proporcionais, o Brasil teve 8 suicídios por 100 mil habitantes em 2022, contra 7,2 em 2021. Com base nos boletins epidemiológicos publicados pelo Ministério da Saúde, a média nacional era de 5,2 casos por mil habitantes em 2010.
Para o professor Antonio Augusto Pinto Junior, do Departamento de Psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), esse aumento deve-se, em muito, pelos efeitos da pandemia de covid-19. Ele contextualiza que o cenário pandêmico resultou em aumento do desemprego e precarização das condições de trabalho. “Elementos que se acumularam com outros fatores de risco para a saúde mental da população, como ansiedade, solidão, estresse. Fatores decorrentes tanto do isolamento social quanto dos lutos e perdas de amigos e/ou familiares”, explica.
“Essas experiências deflagradas pela pandemia impactaram, de forma significativa, a saúde mental em função dos riscos físicos e psicossociais, tornando o sofrimento psíquico muito mais agudo, desencadeando o declínio do sentimento de vida e de uma sensação de vazio que, geralmente, acompanham o comportamento suicida”, conta o especialista.
O professor conta que observou esses sintomas em pacientes atendidos no projeto que a UFF tem em parceria com o Departamento de Psicologia Clínica do Instinto de Psicologia da Universidade de São Paulo. “Mesmo após o período crítico da pandemia, a busca pelo tratamento online se manteve intensa. Os principais transtornos apresentados são ansiedade e depressão, com queixa de desamparo atrelado à perda de referências simbólicas, o que produz uma forma de angústia que, muitas vezes, figura como um excesso emocional que acompanha uma interrupção do sentido de vida”, completa.
O ranking que ninguém quer liderar
O Anuário do FBSP apresenta um recorte, por estado da federação, dos casos de suicídios relatados nos anos de 2022 e 2023, proporcional ao número de 1.000 habitantes. Nesse caso, vale levar em consideração a eficiência das notificações ou mesmo as omissões ou subnotificações nos sistemas das secretarias estaduais.
Com relação a 2023, o maior número de suicídios no País foi registrado no Rio Grande do Sul (14,6 por 1.000 habitantes). Outro estado sulista, Santa Catarina, ficou em segundo no ranking (13,8), com o Acre em terceiro (13,7). Acima de 10 casos por 1.000 habitantes ainda estão Roraima (10,4) e Goiás (10,2).
Sinais de alerta
A campanha ‘Setembro Amarelo’ é uma forma de levar a saúde mental e prevenção ao suicídio para o cotidiano nas pessoas. Um dos objetivos da ação é aumentar a conscientização sobre sinais de que uma pessoa pensa em tirar a própria vida. Alguns indícios, segundo a campanha, são:
- Expressão de ideias ou de intenções suicidas;
- Publicações nas redes sociais com conteúdo negativista ou participação em grupos virtuais que incentivem o suicídio ou outros comportamentos associados;
- Isolamento e distanciamento da família, dos amigos e dos grupos sociais, particularmente importante se a pessoa apresentava uma vida social ativa;
- Atitudes perigosas que não necessariamente podem estar associadas ao desejo de morte (dirigir perigosamente, beber descontroladamente, brigas constantes, agressividade, impulsividade, etc.);
- Ausência ou abandono de planos;
- Forma desinteressada como a pessoa está lidando com algum evento estressor (acidente, desemprego, falência, separação dos pais, morte de alguém querido);
- Despedidas (“acho que no próximo natal não estarei aqui com vocês”, ligações com conotação de despedida, distribuir os bens pessoais);
- Colocar os assuntos em ordem, fazer um testamento, dar ou devolver os bens;
- Queixas contínuas de sintomas como desconforto, angústia, falta de prazer ou sentido de vida;
- Qualquer doença psiquiátrica não tratada (quadros psicóticos, transtornos alimentares e os transtornos afetivos de humor).
Necessidade de acolhimento
Entre os profissionais que tratam de saúde mental e instituições especialistas em prevenção ao suicídio, é unânime a ideia de procurar (ou orientar) ajuda específica sempre que sentir necessidade de acolhimento (ou perceber que alguém precisa). Aqui alguns canais para receber atenção e auxílio:
- Centro de Valorização da Vida, realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.
- Mapa da Saúde Mental, que traz uma lista de locais de atendimento voluntário on-line e presencial em todo país.
- Pode Falar, um canal lançado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) de ajuda em saúde mental para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. Funciona de forma anônima e gratuita, indicando materiais de apoio e serviço.
Com informações, Bruno de Freitas Moura, Paula Laboissière, Agência Brasil
@medicina_cfm @abpbrasil
Acesse o estudo ‘Excesso de suicídios no Brasil nos primeiros 2 anos da pandemia de COVID-19: desigualdades de gênero, regionais e por faixa etária’>>
Acesse a página da OMS sobre a prevenção de suicídios>>
Acesse a campanha Setembro Amarelo>>