Com 3,2 milhões de bolsas de sangue coletadas no Sistema Único de Saúde (SUS), o Ministério da Saúde registrou 1,6% da população brasileira como doadora, em 2023. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a recomendação é que cada país tenha uma população doadora entre 1% e 3%, mas, também, que cada região avalie qual a melhor taxa para suprir as demandas locais.
Em alusão ao Dia Mundial do Doador de Sangue (14/06) e com o objetivo de estimular a doação, o ministério lança a campanha nacional: “Toda vida é importante para alguém. Doe sangue, mesmo sem saber para quem”.
Até março deste ano, foram realizadas 731.734 doações no Brasil. Atualmente, o país conta com 32 hemocentros estaduais, além dos diversos serviços de hemoterapia regionais e municipais que são serviços públicos de hemoterapia, responsáveis pela coleta, processamento, armazenamento e distribuição de sangue e seus componentes.
O mini aplicativo Hemovida, integrado ao Meu SUS Digital, desempenha um papel fundamental na informação das regras de doação de sangue no SUS. Por meio dessa ferramenta acessível e gratuita, a nova versão da integração com o sistema 'Hemovida Web – Ciclo do Sangue' tem o potencial de ser uma ponte essencial entre os hemocentros da rede pública de saúde e os potenciais doadores.
O aplicativo pode ser utilizado por qualquer cidadão e conta com as seguintes funcionalidades: geolocalização dos serviços hemoterápicos, regras para doar sangue, campanhas e doação autodeclarada.
Transfusão de vida
A transfusão de sangue é fundamental na atenção à saúde, pois beneficia pacientes que precisam do sangue e de hemocomponentes para enfrentar doenças que põem a vida em risco, como a anemia falciforme e a talassemia. A transfusão de sangue e hemoderivados prolonga a vida das pessoas e melhora sua qualidade de vida. A transfusão também dá suporte hemoterápico a procedimentos médico-cirúrgicos complexos, portanto é indispensável na assistência materno-infantil e em desastres naturais e antropogênicos.
Os serviços de hemoterapia têm o duplo desafio de manter estoques em níveis adequados e garantir a segurança e a qualidade do sangue. A doação voluntária não remunerada é essencial para fornecer sangue seguro em quantidade suficiente. Além disso, o plasma doado sem remuneração é vital para o suporte hemoterápico de pacientes com diversas doenças crônicas, como hemofilia e deficiências imunológicas.
Em maio de 2005, na 58ª Assembleia Mundial da Saúde, os ministros da Saúde de todo o mundo declararam unanimemente seu compromisso e apoio à doação voluntária de sangue. A Resolução WHA58.13 estabeleceu o Dia Mundial da Doação de Sangue como um evento anual a ser celebrado em 14 de junho. A Resolução insta os Estados Membros a implementar e manter programas de doação de sangue sustentáveis e bem estruturados, com coordenação nacional e fiscalização regulatória apropriada, para que a coleta de sangue seguro seja suficiente para atender às necessidades dos pacientes.
Desejo de ajudar
A auxiliar administrativa Larissa Régis, de 24 anos, doou sangue pela primeira vez há seis anos, logo que completou 18 anos. “Fui motivada pelo desejo de ajudar as pessoas e fazer a diferença na vida do próximo. A ideia de que uma simples ação poderia salvar vidas foi um grande incentivo para mim”, disse Larissa. Desde então, a jovem faz pelo menos uma doação de sangue todos os anos e planeja se tornar uma doadora regular, no intuito de ajudar a manter os estoques em dia.
“Acho muito importante manter esse compromisso. A ideia de ter uma carteirinha de doador é algo que me atrai, já que facilita o acompanhamento e reforça a minha responsabilidade com a causa”, explicou.
Larissa também é voluntária nos Escoteiros do Brasil e tem alguns amigos que também são doadores. “Muitos jovens não estão cientes de que, a partir dos 16 anos, já podem ser doadores. É um tema que precisa ser mais divulgado, especialmente nas escolas e universidades.”
O estudante Murilo Verdélio Bortoloso, de 17 anos, viu, no ano passado, uma postagem nas redes sociais pedindo doação de sangue do tipo O+ e logo foi atrás de informação. “Sempre tive esse sentimento de querer ajudar a quem precisa. Vi que podia doar já a partir de 16 anos e fui. Tenho interesse de querer fazer o bem, ajudar as pessoas”, contou.
Por conta do tipo sanguíneo, frequentemente requisitado nos bancos de sangue, o adolescente também pensa em se tornar um doador regular.
“Seria muito interessante me tornar um doador regular porque, pelo que vejo, meu tipo sanguíneo está sempre em falta. É uma boa opção, tanto porque gosto de ajudar como porque tem seus benefícios”, destacou Murilo.
Vantagens para doadores
Algumas unidades federativas, como São Paulo e Distrito Federal, oferecem vantagens para doadores regulares. Há ainda leis que isentam esses doadores da taxa de inscrição em concursos públicos realizados pela administração direta e indireta, por fundações públicas e universidades públicas.
“Na primeira vez que fui doar sangue, chamei alguns amigos para doarem comigo, mas nenhum foi – por falta de organização e por falta de divulgação do tema. Tanto que, quando fui doar, não vi nenhum adolescente. Eu era o único por lá”, lembrou o estudante. “O maior conselho que dou é não pensar muito. Teve o sentimento de que pode, tem esse tempo, porque leva um tempo considerável? Já vá direto para o hospital e doe. É simples. Não pensa muito. Só vai e faz. E ainda ganha um lanche de graça – que, por sinal, é muito bom”, brincou.
A bombeiro militar Fabiana Fontenele, de 39 anos, é doadora regular – doa sangue três vezes por ano. As doações são incentivadas, inclusive, pela corporação. Fabiana diz que já perdeu a conta de quantas vezes procurou o hemocentro para participar de mutirões de doação. “A sensação é muito boa, de poder ajudar pessoas que precisam realmente de ajuda, sendo que é um ato muito simples. No meu caso, não há nada, biologicamente, com o meu corpo, me impedindo de doar”, explicou.
“O tema precisa ser mais divulgado. É um ato simples que salva vidas. Tenho amigos que doam com frequência, no intuito de ajudar a todos. Meu conselho é: 'doe, sem medo, porque é um ato simples e singelo, que salva realmente a vida das pessoas'”, concluiu.
Como doar
Há critérios que permitem ou impedem uma doação de sangue, determinados por normas técnicas do Ministério da Saúde e que visam à proteção ao doador e à segurança de quem vai receber o sangue. Para fazer a doação, é necessário:
– levar documento oficial de identidade com foto (identidade, carteira de trabalho, certificado de reservista, carteira do conselho profissional ou carteira nacional de habilitação);
– estar bem de saúde;
– ter entre 16 e 69 anos, sendo que adolescentes de 16 e 17 anos precisam do consentimento formal dos responsáveis;
– pesar mais de 50 quilos.
Já as recomendações para o dia da doação incluem:
– não estar em jejum;
– fazer um repouso mínimo de seis horas na noite anterior à doação;
– não ingerir bebidas alcoólicas nas 12 horas anteriores à doação;
– evitar fumar por pelo menos duas horas antes da doação;
– evitar alimentos gordurosos nas três horas que antecedem a doação.
Pessoas que exercem atividades como pilotar avião ou helicóptero; conduzir ônibus ou caminhões de grande porte; subir em andaimes; e paraquedismo ou mergulho devem interromper essas atividades por 12 horas antes da doação.
O intervalo mínimo para doação, no caso dos homens, é de 60 dias, sendo permitidas até quatro doações por ano. Para mulheres, o prazo mínimo entre uma doação e outra é de 90 dias, permitindo até três doações por ano.
Os cuidados pós-doação incluem:
– evitar esforços físicos exagerados por pelo menos 12 horas;
– aumentar a ingestão de líquidos;
– não fumar por cerca de duas horas;
– evitar bebidas alcoólicas por 12 horas;
– manter o curativo no local da punção por pelo menos quatro horas.
As condições abaixo impedem a doação de sangue:
– diagnóstico de hepatite após os 11 anos de idade;
– mulheres grávidas ou que estejam amamentando;
– pessoas que estão expostas a doenças transmissíveis pelo sangue, como aids, hepatite, sífilis e doença de Chagas;
– usuários de drogas;
– pessoas que tiveram relacionamento sexual com parceiro desconhecido ou eventual, sem uso de preservativos.
Cuidados necessários em casos de cirurgia e prazos de impedimento para doação de sangue:
– extração dentária: 72 horas
– apendicite, hérnia, amigdalectomia e varizes: três meses
– colecistectomia, histerectomia, nefrectomia, redução de fraturas, politraumatismos sem sequelas graves, tireoidectomia e colectomia: seis meses.
Com informações, Paula Laboissière, Agência Brasil; Ana Freire, Ministério da Saúde; e Organização Pan-Americana da Saúde.
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