Entre 65 países e regiões, Brasil fica na 59ª posição em ranking de leitura
62% dos estudantes brasileiros do 4º ano do ensino fundamental estão abaixo do nível básico de leitura e apenas 13% podem ser considerados proficientes na interpretação de textos
25 ABR 2025 - 15H50 • Por Wilson LopesDesde 2001, a Associação Internacional para Avaliação do Desempenho Educacional (IEA) realiza o Estudo Internacional de Progresso em Leitura (PIRLS), tradução de Progress in International Reading Literacy Study, para avaliar as tendências internacionais de compreensão leitora de estudantes do 4º ano de escolarização, utilizando testes cognitivos e questionários contextuais.
Os testes aplicados no PIRLS são desenvolvidos e validados internacionalmente para medir o letramento em leitura e contemplam tanto textos literários quanto informativos, além de medir o desempenho em compreensão leitora. Os questionários também são aplicados aos pais ou responsáveis, aos professores e aos diretores escolares.
O Brasil participou pela primeira vez do PIRLS no ciclo de 2021, com uma amostra de 187 escolas (públicas e privadas) de todas as regiões do país, reunindo 4.941 estudantes.
Matriz de Referência
O PIRLS investiga a compreensão leitora a partir de dois propósitos e quatro estratégias de compreensão:
No fim da fila
No ranking geral, o Brasil alcançou uma pontuação média de 419 pontos em compreensão leitora no PIRLS/2021, resultado significativamente inferior a 58 do total de 65 países e regiões. O desempenho dos estudantes brasileiros não é significativamente diferente do desempenho dos estudantes de Kosovo (421) e Irã (413), e só é estatisticamente superior ao desempenho da Jordânia (381), Egito (378) e África do Sul (288). A pontuação média alcançada pelos estudantes brasileiros (419) se localiza no nível baixo da escala pedagógica.
Distante de uma educação inclusiva
Aproximadamente 38% dos estudantes brasileiros não dominavam as habilidades mais básicas de leitura (por exemplo, recuperar e reproduzir um pedaço de informação explicitamente declarada no texto).
Em 21 países, esse percentual de estudantes sem qualquer domínio sobre a compreensão leitora não passa de 5%, como Irlanda (2%), Finlândia (4%), Inglaterra (3%), Singapura (3%) e Espanha (5%), por exemplo. Em mais da metade dos países participantes, esse percentual não passa de 10%.
Esse resultado mostra que o Brasil está muito distante de uma educação inclusiva, que significa garantir a todos os estudantes brasileiros, pelo menos, o nível básico de proficiência em compreensão leitora.
Cerca de 24% dos estudantes brasileiros dominavam apenas as habilidades mais básicas de leitura. Esse percentual, somado ao dos estudantes que estão abaixo do básico, representa 62% da população de estudantes do 4º ano do ensino fundamental.
Em outras palavras, quase dois terços dos estudantes do 4º ano de escolarização, no Brasil, possuem habilidade muito limitada de entender e utilizar as formas da linguagem escrita exigidas pela sociedade e/ou valorizadas pelo indivíduo.
Apenas 13% dos estudantes brasileiros podem ser considerados proficientes em compreensão leitora no 4º ano de escolarização – são aqueles que alcançam nível alto ou avançado de proficiência.
Leitura é coisa de rico no Brasil
O PIRLS fornece indicadores importantes para analisar a equidade, em especial os indicadores de “nível socioeconômico” e “recursos para aprendizagem em casa”, que inclui recursos existentes nos domicílios dos estudantes, que possam promover o seu aprendizado, como a disponibilidade de livros, livros infantis e materiais de estudo. Nesses indicadores, o Brasil é um país que se destaca com baixa qualidade e equidade, assim como África do Sul.
No Brasil, a distribuição dos estudantes pelo seu nível socioeconômico foi de:
- Alto NSE - 5%
- Médio NSE - 31%
- Baixo NSE - 64%
O grupo formado pelos 64% de estudantes brasileiros com “Baixo NSE” alcançou uma estimativa média de desempenho em compreensão leitora igual a 390 pontos, muito aquém da média alcançada pelos estudantes mais vulneráveis de Portugal (488) e Espanha (488), por exemplo.
A diferença no desempenho médio em compreensão leitora entre os estudantes com “Alto NSE” e “Baixo NSE” no Brasil foi de 156 pontos, o que corresponde a 1,5 desvio-padrão da escala do PIRLS. Em nível internacional, essa diferença de médias é de 86 pontos (aproximadamente 0,9 desvio-padrão).
Embora o cálculo do NSE busque trazer uma equivalência do contexto socioeconômico entre os estudantes dos diversos países participantes da avaliação, é importante considerar que os desafios enfrentados pelos estudantes mais pobres no Brasil são muito maiores que os desafios enfrentados pelos estudantes mais pobres das nações mais ricas.
Escola de pobre X Escola de rico
Por meio do estudo também é possível avaliar a associação entre o resultado educacional médio da escola e o seu contexto socioeconômico, dado pelo nível socioeconômico médio dos alunos da escola: quanto maior o nível socioeconômico médio da escola, maiores as médias do desempenho em compreensão leitora.
Com isso, evidencia-se uma divisão no alcance escolar das crianças matriculadas em escolas públicas e privadas. Todas as escolas com um desempenho médio abaixo do nível “Básico” na escala pedagógica são escolas públicas, cujas crianças matriculadas no 4º ano do ensino fundamental se encontram em situação de vulnerabilidade socioeconômica (situam-se no nível Mais Baixo da escala do NSE: <= 8,5). Na outra ponta estão as escolas privadas, com um contexto escolar privilegiado (estudantes com nível socioeconômico entre Médio e Alto na escala do NSE), cujo desempenho médio dos estudantes ultrapassa a média de 500 pontos e chega a alcançar o desempenho médio obtido por países que se destacam nas avaliações internacionais de aprendizagem, como Finlândia (549), Alemanha (524) e Portugal (520).
Essa grande disparidade entre escolas públicas e privadas reflete as vantagens decisivas que possuem os estudantes mais favorecidos, que frequentam as escolas pagas – são estudantes com melhores condições sociais e econômicas, que favorecem o seu maior envolvimento com a educação, bem como o apoio da família no acompanhamento e orientação da educação dos filhos.
Nesse caso, acentua-se a necessidade de o sistema de ensino ser capaz de garantir aos estudantes menos privilegiados a possibilidade de superarem o baixo alcance nos resultados educacionais por meio de políticas compensatórias que visam produzir maior justiça escolar.
Nível adequado de aprendizagem
Para o diretor-fundador do Iede, Ernesto Martins Faria, os resultados do PIRLS/2021 acendem um alerta: “Não é que não exista um cenário de boa aprendizagem no Brasil. Existe, só que é para poucos. Isso tem que incomodar muito a gente. Por que tem um grupo pequeno que consegue chegar a um nível de aprendizagem competitivo em nível internacional; e por que, quando a gente olha para os [estudantes] de baixa renda, a situação de aprendizagem é tão complicada, inclusive com muitos alunos não chegando ao nível básico da avaliação?”
Segundo Faria, a habilidade em leitura é a que vai gerar autonomia para os estudantes em diversas disciplinas. “Quando a gente está falando de leitura, a gente não tá falando de uma disciplina específica. A gente tá falando de uma competência que é basilar, que é semelhante à matemática, à resolução de problemas. Então, a partir da leitura, você vai poder desenvolver várias competências. Isso vale para a língua portuguesa, mas vale para as ciências sociais, vale para as ciências naturais, vale para a criança poder viver bem em sociedade, se desenvolver”, diz.
O diretor-fundador do Iede diz que o objetivo de analisar detalhadamente os microdados é dar visibilidade às desigualdades que existem, tanto no Brasil como em outros países. “A gente não pode ter um olhar geral só para a média, que é a situação do país, mas [é preciso olhar] para como estão os vulneráveis, como estão os alunos desfavorecidos”.
Outras desigualdades
Os dados mostram também diferenças entre aqueles que tiveram contato com a leitura antes do ensino fundamental e aqueles que não tiveram esse contato. Segundo a análise, entre os que tiveram contato frequente com a leitura antes desta etapa, 49,7% alcançaram o patamar de aprendizado adequado. Já aqueles que disseram que tinham esse contato “às vezes”, a porcentagem cai para 36%.
Os pais e responsáveis terem o hábito de ler também influencia a habilidade de leitura das crianças. Entre aqueles cujos pais responderam “não gostar de ler”, o percentual de aprendizado adequado em leitura foi de 32,6%. Já os filhos de pais que dizem “gostar muito de ler”, 47,6% tiveram um aprendizado adequado em leitura.
Segundo Faria, os dados mostram a necessidade de o país ter mais políticas voltadas para a redução de desigualdades que visem, por exemplo, levar mais recursos para regiões mais vulneráveis e estimular que essas regiões tenham bons professores.
"O Brasil tem que dar cada vez mais intencionalidade para políticas que olham para a equidade", defende. "Não só recursos, mas como a gente consegue que bons professores vão para áreas socioeconômicas mais vulneráveis e como garantir melhor infraestrutura em escolas que atendem alunos de baixo nível socioeconômico? [Precisamos] ter políticas educacionais que direcionem recursos visando a equidade".
Com informações, Brasil no PIRLS 2021; Mariana Tokarnia, Agência Brasil.
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