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"Dia de Libertação"

Diálogo, por enquanto, não paga tarifa

Após 'tarifaço' anunciado por Donald Trump, economistas recomendam cautela e diálogo para reduzir os impactos das medidas

3 ABR 2025 - 09H55 • Por Wilson Lopes
O presidente dos Estados Unidos anunciou um 'tarifaço global' e prometeu implementar tarifas recíprocas a países que cobram taxa de importação de produtos americanos - FreePik

O presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, anunciou (2/04/25) um ‘tarifaço global’ sobre impostos de importação. A data foi nomeada pelo republicano como o “Dia de Libertação”. 

Trump prometeu implementar tarifas recíprocas a países que cobram taxa de importação de produtos americanos. No evento, ele anunciou tarifa de 20% sobre a União Europeia, 34% sobre a China e 46% sobre o Vietnã. Os produtos brasileiros foram taxados em 10%. O presidente confirmou, ainda, uma taxa de 25% sobre todos os veículos importados. 

Em transmissão da Casa Branca, ele disse que a aplicação das tarifas aos outros países “é uma medida gentil” que tornará os “Estados Unidos grande novamente”.

Segundo Trump, as tarifas recíprocas serão de, ao menos, metade da alíquota cobrada pelos outros países, com uma taxa mínima de 10%.

No anúncio, ele fez críticas aos governos passados, em especial a administração de Joe Biden, por terem deixado outros países aplicarem elevadas taxas aos produtos norte-americanos, impactando a indústria nacional. Segundo ele, esses países “estão roubando” e “levando vantagem” dos EUA.

Câmara aprova Lei da Reciprocidade Comercial

A Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 2.088/2023, que cria a Lei da Reciprocidade Comercial, autorizando o governo brasileiro a adotar medidas comerciais contra países e blocos que imponham barreiras aos produtos do Brasil no mercado global. 

O texto do PL já havia sido aprovado no plenário do Senado, por unanimidade. Agora, o texto segue para sanção presidencial.

O Artigo 1º do Projeto estabelece critérios para respostas a ações, políticas ou práticas unilaterais de país ou bloco econômico que “impactem negativamente a competitividade internacional brasileira”.

A lei valerá para países ou blocos que “interfiram nas escolhas legítimas e soberanas do Brasil”.

No Artigo 3º, fica autorizado o Conselho Estratégico da Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligado ao Executivo, a “adotar contramedidas na forma de restrição às importações de bens e serviços”, prevendo ainda medidas de negociação entre as partes antes de qualquer decisão.

O prazo para que seja sancionada pelo presidente da República e entre definitivamente em vigor é de 15 dias úteis após a aprovação.

Para a Confederação Nacional da Indústria, é preciso fazer uma análise detalhada das medidas e insistir no diálogo para preservar uma relação bilateral histórica e complementar entre o Brasil e os EUA (Claraboia Filmes)

Momento é de reforçar o diálogo 

O anúncio de tarifas adicionais de 10% sobre os produtos brasileiros, impostas pelo governo dos Estados Unidos, foi recebido com preocupação e cautela pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo a instituição, é preciso fazer uma análise detalhada das medidas divulgadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, e insistir no diálogo para preservar uma relação bilateral histórica e complementar entre o Brasil e os EUA.  

“Claro que nos preocupamos com qualquer medida que dificulte a entrada dos nossos produtos em um mercado tão importante quanto os EUA, o principal para as exportações da indústria brasileira. No entanto, precisamos fazer uma análise completa do ato. É preciso insistir e intensificar o diálogo para encontrar saídas que reduzam os eventuais impactos das medidas”, avalia Ricardo Alban, presidente da CNI.

A tarifa adicional de 10% anunciada pelos EUA afetará todos os países e entrará em vigor no dia 5 de abril. Foram anunciadas também tarifas mais altas para países com os maiores déficits comerciais com os EUA, como China (34%), União Europeia (20%) e Japão (24%), a partir de 9 de abril.

No caso de aço, alumínio, e veículos e autopeças, prevalecerá a tarifa de 25%, anunciada recentemente.

Estados Unidos são principal destino de exportações da indústria de transformação brasileira

Os Estados Unidos são o principal destino das exportações brasileiras da indústria de transformação, especialmente de produtos de maior intensidade tecnológica, além de liderarem o comércio de serviços e os investimentos bilaterais. Somente em 2024, a indústria de transformação brasileira exportou US$ 31,6 bilhões em produtos para os EUA. Nesse ano, a cada R$ 1 bilhão exportado para os EUA, foram criados 24,3 mil empregos, R$ 531,8 milhões em massa salarial e R$ 3,6 bilhões em produção.

Um levantamento da CNI destaca os produtos mais exportados pelo Brasil aos Estados Unidos. De 20 itens analisados, em 13, os EUA são os principais compradores do produto brasileiro.

Confira os principais produtos exportados aos EUA e a participação na exportação total:

O Brasil se destaca como um dos poucos países entre as principais economias com os quais os EUA mantêm um superávit persistente no comércio de bens (Freepik)

Raio-x das relações econômicas Brasil-Estados Unidos 

Com informações, Pedro Rafael Vilela, Agência Brasil; Fernanda Louise, Agência Brasil e Agência de Notícias da Indústria.
@cnibr