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Nossas Ilhas Vivas

Irlanda cria política para ocupar ilhas abandonadas

Governo irlandês oferece incentivos de até 84.000 para quem se mudar para casas abandonadas, mas a política não facilita a imigração

30 NOV 2024 - 13H00 • Por Wilson Lopes

A Ilha da Irlanda compunha o Reino Unido junto a Inglaterra, Escócia e País de Gales até 1922, quando foi dividida em duas partes. A Irlanda do Norte, cuja capital é Belfast, continuou sob o domínio da Grã-Bretanha. 

A República da Irlanda, ao sul, se transformou em um estado autônomo e soberano, governado por uma democracia parlamentar, tendo Dublin como sua capital. 

Em pouco mais de 100 anos após sua independência, a Irlanda deixou de ser uma das nações mais pobres na Europa para se transformar na Ilha Esmeralda ou, mais recentemente, no Tigre Celta.

Os adjetivos se justificam e qualificam a Irlanda como um dos países mais prósperos do mundo, ostentando, em 2020, o segundo lugar mundial no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o terceiro em renda per capita.

Mesmo limitada pelo Oceano Atlântico e experimentando um crescimento populacional de 79,8% de 1960 a 2022, quando sua população saltou de 2,83 milhões para 5,09 milhões de habitantes, a Irlanda quer mais.

Como 55,7% da população mundial vive nas cidades, de acordo com a ONU-Habitat (na Irlanda o índice já alcança 64%), o governo irlandês acaba de lançar o “Our Living Islands - National Islands Policy 2023/2033”, em tradução livre ‘Nossas Ilhas Vivas - Política das Ilhas Nacionais’.

Nossas Ilhas Vivas

O plano, elaborado pelo Ministério de Desenvolvimento Rural e Comunitário, pretende conter o êxodo rural, inverter o declínio populacional e promover a reocupação imobiliária de 30 ilhas ao largo da costa da Irlanda que não são propriedade privada e ficam isoladas diariamente pela movimentação das marés (outras 270 ilhas também fazem parte do território nacional).

A ministra Heather Humphreys explica que há 25 anos o governo não desenvolvia nenhuma política para as ilhas, que são parte integrante do tecido rural, do patrimônio e da cultura irlandesa. “O isolamento geográfico e a separação do continente dificulta o acesso ao emprego, aos serviços públicos e às infraestruturas vitais”, reconhece.

Para manter as “ilhas vivas”, a política prevê 80 planos de ação para alcançar cinco Objetivos Estratégicos durante 10 anos:
1. Revitalizar os níveis populacionais nas ilhas
2. Diversificar as economias insulares
3. Melhorar os serviços de saúde e bem-estar
4. Capacitar as comunidades insulares
5. Construir futuros inteligentes e sustentáveis

Ocupação de propriedades abandonadas

Na prática, o governo irlandês pretende concentrar-se na melhoria da habitação e das infraestruturas hídricas; num melhor acesso a serviços essenciais de educação (aprendizagem à distância em cursos de ensino superior) e saúde (E-Health Pods – telemedicinae consultas on-line), no fornecimento de internet de banda larga de alta velocidade (centros digitais e pontos de ligação de cabo - BCP, estimulando o trabalho remoto); no desenvolvimento de comodidades ao ar livre e do turismo sustentável (atividades recreativas, ciclismo, natação e caminhadas); subsídios e apoios para projetos comunitários de eficiência energética; além de apoiar as empresas sociais e o desenvolvimento dos setores de artesanato, design e agroalimentar, com foco em produtos sustentáveis e orgânicos.
“Esta política foi desenvolvida após um extenso processo de consulta com as comunidades locais e as partes interessadas, que terão um papel na monitorização da sua implementação”, explica Humphreys.

O plano prevê subvenção (auxílio ou subsídio) para reforma ou remodelação de imóveis desocupados e ocupação de imóveis abandonados que variam de 50.000€ a 84.000€ (cerca de R$ 440.000). 

Entre as ações imediatas estão o investimento de 2 milhões de euros para obras nas ilhas de Donegal, Sligo, Mayo, Galway e Cork, identificação de propriedades vagas e abandonadas (Vacant Home Officers), aumento de 20% nos limites de financiamento para novas moradias, construção de cais e estradas, e modernização dos postos da guarda costeira.

“Queremos as ilhas contribuindo e beneficiando a transição para uma economia hipocarbónica (em que todos os setores apresentem baixas emissões de carbono) e uma sociedade com impacto neutro no clima. Nosso objetivo é construir comunidades e economias insulares resilientes e sustentáveis, integrando a língua irlandesa com a música, as artes, o artesanato e as tradições das ilhas”, planeja a ministra. 

Como resultado da política de reocupação, o governo irlandês espera que em pouco tempo mais pessoas estejam vivendo e trabalhando nas ilhas, independentemente da sede ou do país do empregador.

Vale ressaltar que a política não inclui quaisquer propostas para facilitar a imigração nas ilhas da Irlanda. O cadastro dos interessados já está disponível desde 1º de julho de 2023. O Ministério de Desenvolvimento Rural e Comunitário publicou uma cartilha (em inglês) com todas as orientações sobre o ‘Nossas Ilhas Vivas - Política das Ilhas Nacionais’.

Clique aqui para fazer o download> 
 

Confira o release “Nossas Ilhas Vivas: Ministro Humphreys lança Política Nacional de Ilhas e Plano de Ação”, publicado pelo governo irlandês, clicando aqui>


Informações sobre imigração na Irlanda, clique aqui>

10 razões para viver na Irlanda

Se fosse um estado brasileiro, a Irlanda, com seus 70.273 km², ocuparia a 21ª posição em território (um pouco menor que Santa Catarina, um pouco maior do que a Paraíba).

Com temperaturas médias de 4°C no inverno e 16°C no verão, e até 275 dias de chuva por ano, o país precisou criar condições favoráveis para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, que tem expectativa de vida de 79,2 anos.

A partir da década de 1960, o governo irlandês tornou gratuitas as escolas e universidades. Como resultado, cerca de 37% da população tem ensino superior, índice que está entre os maiores percentuais no mundo (19,2% no Brasil). Assim como a educação, o sistema de saúde também é público.

A Irlanda aderiu à União Europeia (UE) em 1973. É membro do Conselho da Europa, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da Organização das Nações Unidas (ONU).

Nos anos 1980, a economia irlandesa, de base agrícola, transformou-se em uma economia moderna, com indústrias de alta tecnologia e serviços, atraindo multinacionais (como Intel, Microsoft e Google) devido a força de trabalho qualificada e baixa taxa de impostos.

Um casal com dois filhos e uma renda média normal paga uma média de 19,4% de imposto de renda. A carga total de impostos, incluindo as contribuições para a seguridade social, é de 19,7%.

Em 2002, a Irlanda passou a usar o Euro como moeda corrente e foi o primeiro país do mundo a criar um imposto ecológico para sacolas plásticas. Em 2004 proibiu fumar em público e, em 2008, o uso de lâmpadas incandescentes.
Em maio de 2015, através do voto popular, se tornou o primeiro país a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e passou a criminalizar a discriminação com base em características como idade, sexo, orientação sexual, estado civil ou familiar, religião ou raça.

Por ser considerado um “país neutro”, possui a chamada regra de "tripla trava", que assegura a participação das tropas irlandesas em zonas de conflito somente após a aprovação da ONU, do parlamento e do governo irlandês. Na prática, a regra reduz o papel militar à autodefesa nacional e à participação nas operações de paz das Nações Unidas.
A Irlanda também ostenta ótimas classificações em índices que medem o grau de democracia e liberdades como a de imprensa, econômica e política. Como se não bastasse...

1 - 2º melhor IDH do mundo (0,942).
2 – 3º lugar na paridade do poder de compra (calcula o poder aquisitivo em relação ao salário).
3 - 14º no Índice de Felicidade (Brasil é o 47º)
4 - 3º no Índice de GINI, que mede a desigualdade social (0,318).
5 – 3º país mais rico do mundo, conforme a Global Finance (Brasil está na 92ª posição).
6 – 20ª melhor educação do mundo, conforme a OCDE. 
7 - 6ª posição no Índice de Liberdade Econômica, que envolve o Estado de Direito, Tamanho do Governo, Eficiência Regulatória, e Mercados Abertos. 
8 - A renda média mensal é de 6.416 US per capita (Brasil é de 644 US).
9 - 5º lugar no mundo em termos de igualdade de gênero.
10 – 10º lugar no menor Índice de Percepção de Corrupção (Brasil está em 95º lugar).