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#Vacina, sim!

3.781 municípios apresentam alto risco para a paralisia infantil; 4.587 para o sarampo

Dados foram apresentados na Jornada Nacional de Imunizações e podem ter relação com a onda de negacionismo e desinformação sobre as vacinas

2 JAN 2025 - 10H00 • Por Wilson Lopes
O último caso de pólio no país foi confirmado em março de 1989 - Felipe Ribeiro/Prefeitura Porto Velho

O alerta está ligado. O negacionismo e as ‘fake news’ que contribuíram para reduzir o índice de cobertura das campanhas de vacinação colocaram o Brasil em situação de vulnerabilidade para doenças que caminhavam para a erradicação. 

Durante a 26ª Jornada Nacional de Imunizações, em Recife (PE), organizada pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a presidente da instituição, Mônica Levi, lamentou o passado recente no qual a ciência deixou de ser prioridade na agenda política, mas ressaltou o fato da saída do Brasil, agora em 2024, da lista dos 20 países com mais crianças não vacinadas (em 2021, o país era o sétimo).

“Mas ainda temos um longo caminho pela frente, com muitos obstáculos, como a onda de negacionismo e desinformação que fragiliza a confiança da nossa população sobre a segurança e a importância das vacinas, gerando hesitação e recusa”, alertou.

A jornada debateu questões como arboviroses, vacinas em desenvolvimento, estoques de vacinas, risco de retorno de doenças controladas/eliminadas, infecções respiratórias, 'fake news', e o contexto de mudanças climáticas e tragédias ambientais.

Paralisia infantil

Na oportunidade, também foram apresentados dados do ‘Plano de Mitigação de Risco de Reintrodução do Poliovírus Selvagem e Surgimento do Poliovírus Derivado da Vacina’.

Dos 5.568 municípios brasileiros, pelo menos 68% estão classificados atualmente como em risco alto ou muito alto para poliomielite, conhecida popularmente como paralisia infantil. O índice representa um total de 3.781 cidades, sendo a maioria (2.104) categorizada com alto risco para a doença. Há ainda 1.342 municípios brasileiros classificados como em médio risco e apenas 447 catalogados como em baixo risco para a pólio.

O último caso de pólio no país foi confirmado em março de 1989. “A gente vem de uma série histórica de alto e muito alto risco de introdução no país e isso nos preocupa”, completou. 

Em 2020 e em 2021, o Brasil havia sido classificado como em risco alto para a doença. Já em 2022, a categorização subiu para risco muito alto, ao lado do Haiti e da República Dominicana. No ano passado, o país voltou a registrar risco alto para pólio. 

Dados do Ministério da Saúde indicam que, desde 1989, não há notificação de casos de pólio no Brasil. As coberturas vacinais contra a doença, no entanto, sofreram quedas ao longo dos últimos anos. Em 2022, a cobertura ficou em 77,19%, longe da meta de 95%. Em 2023, o índice subiu para 84,63%.

Desde a década de 1980, a pólio só podia ser prevenida por meio de duas gotinhas aplicadas na boca das crianças. O esquema de vacinação atual, entretanto, vai além da vacina oral e utiliza ainda doses injetáveis para combater a chamada paralisia infantil.

De acordo com esquema divulgado pelo Ministério da Saúde, as três primeiras doses contra a pólio são injetáveis e devem ser aplicadas aos 2 meses, aos 4 meses e aos 6 meses de vida, conforme previsto no Calendário Nacional de Vacinação. Em seguida, devem ser administradas mais duas doses, conhecidas como doses de reforço, essas, sim, orais: uma aos 15 meses de vida e a última, aos 4 anos.

Por esse motivo, a orientação da pasta é que, anualmente, todas as crianças menores de 5 anos sejam levadas aos postos de saúde durante a Campanha Nacional de Vacinação contra Poliomielite para checagem da caderneta e atualização das doses, caso haja necessidade. Mesmo as crianças que estão com o esquema vacinal em dia, mas na faixa etária definida pela pasta, devem receber as gotinhas ou doses de reforço.

Sarampo

Ainda durante a 26ª Jornada Nacional de Imunizações foram apresentadas informações sobre os casos de sarampo no Brasil. Na exposição foram relatados que, ao menos, 4.587 municípios foram classificados como em alto risco para sarampo, enquanto 225 foram categorizados como em risco muito alto, totalizando 86% das cidades em todo o país com risco elevado para a doença. Há, ainda, 751 municípios listados com risco médio e apenas quatro com baixo risco. 

Ao comentar o cenário, a consultora nacional em Imunização da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Flávia Cardoso, lembrou que o Brasil chegou a ser certificado como país livre do sarampo em 2016, mas perdeu o status em 2019 após voltar a registrar a circulação do vírus por um período superior a 12 meses. 

A situação no Rio de Janeiro, no Amapá, no Pará e em Roraima foi classificada pela entidade como muito preocupante para a manutenção da eliminação do sarampo e da rubéola no país. 

Em junho deste ano, o país completou dois anos sem casos autóctones, ou seja, com transmissão em território nacional, do sarampo. Com isso, o país espera retomar a certificação de 'livre de sarampo'. 

Segundo Ministério da Saúde, desde 2019, no entanto, o número de casos de sarampo está em queda. Caiu de 20.901 registros, naquele ano, para 41 casos, em 2022. O último caso foi confirmado em 5 junho de 2022, no Amapá.

“Para que o Brasil possa continuar sem casos, é fundamental alcançar coberturas vacinais de, no mínimo, 95% de forma homogênea”, afirma o diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Eder Gatti.

Com informações, Paula Laboissière, Agência Brasil.

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