Horário de verão tem apoio de 54,9% e reprovação de 25,8% da população
Pesquisa aponta impacto benéfico no comércio, turismo, saúde, segurança pública, além da economia de energia e de recursos naturais
18 SET 2024 - 10H04 • Por Wilson LopesO horário de verão é beneficial para a economia do país, a sociedade e a saúde das pessoas. É o que revela uma consulta realizada no site do ‘Reclame AQUI’, em parceria com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), da qual participaram 3.000 pessoas.
Na pesquisa, 54,9% disseram que são favoráveis ao adiantamento dos relógios e estão propensos à volta do horário de verão. Destes, 41,8% disseram que são totalmente favoráveis e 13,1% são parcialmente favoráveis. Para 16,9% a mudança é indiferente. Outros 25,8% se mostraram totalmente contrários, e 2,2% dizem ser parcialmente contra a volta.
Nas regiões do Brasil onde o horário de verão era historicamente adotado (Sul, Sudeste e Centro-Oeste), a volta da mudança nos relógios ganha ainda mais apoio. O índice dos que se dizem a favor chega a 56,1% no Sudeste (43,1% totalmente favoráveis e 13% parcialmente favoráveis) e a 60,6% no Sul (52,3% totalmente favoráveis e 8,3% parcialmente favoráveis).
No Centro-Oeste a adesão é um pouco menor, de 40,9% (29,1% totalmente favoráveis e 11,8% parcialmente a favor). No total das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste (onde havia horário de verão até 2019), 55,74% são a favor da volta.
Mudança de comportamento
Edu Neves, CEO e cofundador do Reclame AQUI, entende que a percepção em relação ao horário de verão pode estar sendo mais positiva do que negativa por uma possível mudança de comportamento da população.
“É perceptível que não há alta preocupação da população com a questão de saúde nem a adequação a um novo ritmo de horário para acordar e dormir, muito compensado pelo nível de satisfação de ter mais luz, um dia claro, mais longo para praticar esportes e socializar, por exemplo. Emocionalmente, o consumidor tem dado mais valor a esse tempo de qualidade do que talvez no passado", diz Neves.
“Numa interpretação livre, a própria estrutura de home office, de modelo híbrido de trabalho que adotaram muitas empresas nas grandes cidades, tem amenizado esse nível de esforço de deslocamento — logicamente que não é uma rotina de toda a sociedade — mas o pós-pandemia e a mudança de comportamento no emprego pode ter trazido essa percepção mais positiva. E isso pode estar refletindo também na percepção de segurança”, completa.
Economia relativa
Já em relação à economia de energia, Neves entende que a pesquisa mostra que essa questão é vista de forma relativa. Apesar de considerarem que há uma certa economia, não parece ser o foco primário.
Para 43,6% dos consultados, o horário de verão ajuda a economizar energia elétrica e outros recursos. Para 39,9%, a mudança não traz economia, e 16,4% disseram que não sabem ou não têm certeza. A região Sul também é a que tem a maioria da população com a percepção de que o adiantamento dos relógios ajuda a economizar recursos, com 47,7%.
Quanto aos benefícios para a economia, a maioria entende que a mudança traz vantagens: 51,7% apontaram que o horário de verão é benéfico para o comércio e serviços, como lojas, bares e restaurantes. Outros 32,7% não veem vantagem no quesito e 15,4% não sabem/não têm certeza.
Ruas mais atrativas
Segundo o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci, a pesquisa deixa claro que a maioria da população percebe uma melhora na economia durante o horário de verão. “O tempo de luz natural a mais no começo da noite faz com que as ruas fiquem mais atrativas, trazendo vigor para o comércio. O movimento nos bares e restaurantes também cresce", analisa.
“A pesquisa mostrou que 43,7% das pessoas se sentem mais dispostas a sair de casa e socializar durante o horário de verão, contra apenas 20,5% que se dizem menos dispostos. Por isso, estimamos um aumento de até 15% no faturamento com a mudança dos relógios, de forma que temos mais recursos circulando na economia, mais geração de empregos e a sociedade na totalidade sai ganhando”, continua.
Ainda segundo o levantamento, para 41,7%, a cidade onde mora fica mais atrativa para o turismo quando o horário de verão está vigente. Apenas 9,4% disseram que fica menos atrativa, enquanto 43,6% não sentem diferença e 5,3% não sabem/não têm certeza.
A pesquisa também mediu a sensação de segurança trazida pela mudança no relógio, considerando o horário de saída para o trabalho. Mais de um terço (35,2%) se sentem mais seguros com a mudança, enquanto 19,5% se dizem menos seguros. Para 41,9% a mudança não traz influência e 3,4% não souberam responder.
Influência na saúde
A pesquisa do Reclame AQUI e Abrasel mostra também que o horário de verão traz uma percepção de melhoria na saúde para a maioria das pessoas que dizem sentir diferença com a mudança: 36,1% indicaram que ele influencia positivamente na saúde, contra 22,8% que dizem sentir efeitos negativos. Para 35,5% não há diferença e 5,6% não souberam opinar.
O lazer (ligado ao bem-estar físico e mental) também sai beneficiado. Quase metade, 47,9%, afirmam ter mais tempo para o lazer quando a mudança nos relógios está em vigor, contra 39,6% que não veem diferença. Outros 8,4% não costumam realizar atividades de lazer e 4,1% não sabem ou não têm certeza.
A realização de atividades físicas também é beneficiada com a mudança. Para 46,1% o horário de verão traz mais disposição para a prática de exercícios físicos. Outros 36,7% não veem influência, enquanto 13,3% não praticam atividade física e 3,9% não souberam responder. No Sul do país, chega a 55,5% o número de pessoas que se dizem mais dispostas a fazer exercícios físicos nos meses de mudança de horário.
“O que fica muito claro com esta pesquisa é que as pessoas enxergam muitas vantagens com a volta do horário de verão, além da economia de energia e de recursos naturais”, diz Paulo Solmucci.
“Lógico que qualquer economia, mesmo que pequena, é bem-vinda. Mas o impacto benéfico acontece também no comércio, no turismo, na saúde, na segurança pública, em diversas outras áreas. Não à toa, a mudança nos relógios é adotada em 70 países do mundo”, completa o presidente da Abrasel.
Possibilidade real
A Abrasel enviou (16/09) uma carta ao ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira, com argumentos favoráveis à volta do horário de verão. A pesquisa realizada no site Reclame AQUI foi anexada à carta.
O ministro afirmou que a volta do horário brasileiro de verão é uma possibilidade real para melhor aproveitamento da luz natural em relação à artificial e a consequente redução de consumo de energia elétrica no país.
“O horário de verão é uma possibilidade real, mas não é um fato porque tem implicações, não só energética, tem implicações econômicas. É importante para diminuir o despacho de térmicas nos horários de ponta, mas é uma das medidas, porque ela impacta muito a vida das pessoas”, reconheceu o ministro.
Silveira confirmou que determinou ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e a Secretaria Nacional de Energia Elétrica (MME) que se reúnam com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para apresentar um plano de contingência para o verão de 2024/2025 e o planejamento energético do próximo ano.
Alexandre Silveira afirmou ainda que pesquisas demonstram que os efeitos do horário de verão – durante os meses da primavera e do verão – são positivos para diversos setores econômicos do Brasil, como o turismo, além de bares e restaurantes.
Horário de verão
O horário brasileiro de verão foi instituído pela primeira vez pelo, então, presidente Getúlio Vargas, de 3 de outubro de 1931 a 31 de março de 1932.
No Brasil, o horário de verão funcionou continuamente de 1985 até 2019, quando o governo federal passado decidiu revogá-lo, em abril de 2019, alegando pouca efetividade na economia energética.
Antes da extinção, o período de vigência do horário de verão entre os meses de outubro e fevereiro era definido, de acordo com critérios técnicos, para aproveitar as diferenças de luminosidade entre os períodos de verão e do restante do ano.
A medida impactava na redução da concentração de consumo elétrico entre 18 horas e 21 horas.
Até a extinção, o horário de verão era aplicado nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e, ainda, no Distrito Federal. E ficavam de fora da política pública as regiões Norte e Nordeste, por não representar redução da demanda energética significativa nos estados das duas regiões, devido à diferença na luminosidade em relação ao restante do país.
Segundo o decreto nº 9.242 de 2017, a hora de verão funcionava a partir de zero hora do primeiro domingo do mês de novembro de cada ano, até zero hora do terceiro domingo do mês de fevereiro do ano seguinte. Mas, se coincidisse com o domingo de carnaval, o encerramento ocorria no domingo seguinte.
Com informações, Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel); Daniella Almeida e Pedro Peduzzi, Agência Brasil.
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