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"Serra na vista!"

Muito prazer: Pico do Cabugi! Mas pode me chamar de Monte Pascoal...

Pesquisadores apontam que 'descobrimento' do Brasil aconteceu nas praias do Rio Grande do Norte, na esquina do continente

19 FEV 2025 - 11H00 • Por Wilson Lopes
Pico do Cabugi (590m), na cidade de Angicos, seria a primeira porção de terra avistada por Pedro Álvares Cabral e sua tripulação, no dia 22 de abril de 1500 - Wikipedia

Amparados pela física, matemática, ciência e, principalmente, pelas tecnologias do século 21, alguns pesquisadores estão dispostos a reescrever os primeiros capítulos do ‘descobrimento’ do Brasil pelos navegantes portugueses.

O ponto de convergência entre eles crava o marco do descobrimento no Cabo de São Roque, em Touros (RN), e não em Porto Seguro (BA), o que daria ao Pico do Cabugi (590m), na cidade de Angicos, o título de Monte Pascoal, a primeira porção de terra avistada por Pedro Álvares Cabral e sua tripulação, no dia 22 de abril de 1500.

O escritor Lenine Pinto deixou três obras defendendo a tese de que os portugueses chegaram primeiro no Rio Grande do Norte (Tribuna do Norte)

O escritor Lenine Pinto, que morreu de pneumonia em 2019, aos 89 anos, deixou três obras defendendo a tese: “A Reinvenção do Descobrimento” (1998), “Ainda a questão do Descobrimento” (2000), e “O Mando do Mar” (2015), todos publicados pelo Sebo Vermelho.

O professor José Luís Conceição Silva, diretor do Centro Brasileiro de Estudos Portugueses da Universidade de Brasília (UnB), comentando o “O Mando do Mar”, disse que “ficou-lhe a convicção de não poder mais acreditar na velha ‘verdade histórica’ de que Cabral aportou no sul da Bahia”.

“O mais recente pesquisador a abordar o tema é o escritor e engenheiro Manoel Cavalcanti Neto. Ele lançou esta semana o livro “Brasil 1500 – A Verdade”, no qual segue os passos de Lenine, porém com uma interpretação independente. O autor defende que a elevação registrada na carta de Pero Vaz de Caminha, “um monte muito grande, alto e redondo” pode não ser o Pico do Cabugi, mas sim a Serra Verde, região de João Câmara, Mato Grande. Em mais de 50 pequenos capítulos, são pontuados temas como a era dos descobrimentos, grandes navegações e o descobrimento do Brasil no Rio Grande do Norte”, relata a jornalista Cinthia Lopes para a Tribuna do Norte.

"Pescadores nativos até hoje tomam o Pico como referência para voltar à terra"

Evidências

Em publicação no Blog Bruno Giovanni, a professora-doutora Rosana Mazaro, do Departamento de Turismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ratifica a teoria. Ela, que é velejadora, une conhecimentos científicos e práticos para embasar cinco evidências para provar que o Brasil começou pelo RN.

1 - “A primeira é pelas correntes marítimas que direcionariam as caravelas naturalmente ao RN. Há uma dificuldade imensa para se chegar da Europa à Bahia e, em contraponto, facilidade para o RN. Há navegadores, sem exagero, que vão até Dakar (na África) para se aproximar do Brasil tamanho a força das correntes”.

2 - A segunda evidência apontada pela professora é o monte avistado pelos portugueses ser o Pico do Cabugi, na região central do RN. Pescadores nativos até hoje tomam o Pico como referência para voltar à terra. Enquanto o Monte Pascal, na Bahia, sequer é um “monte”, mas uma torre, cortada e sem “pico”.

3 - A terceira seria a presença de “aguada” no litoral, conforme consta na carta do descobrimento. Aguada seria água doce, presente nas proximidades do Marco de Touros e inexistente em Porto Seguro, na Bahia.

4 - A penúltima evidência seria o Marco de Touros, diferente do fincado na Bahia. O daqui é esculpido com símbolos e brasões semelhantes ao marco chantado no município de Cananéia, em São Paulo, que seria o segundo marco português no Brasil.

5 - Por último, o argumento mais evidente apontado pelos estudiosos: consta no mapa português que eles navegaram duas mil léguas ao Sul do país para fincar o segundo marco. Essa distância corresponde exatamente o percurso do Estado potiguar a São Paulo. Caso partisse da Bahia, o segundo marco estaria fincado na Argentina.


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