Usina de Itaipu comemora 50 anos como referência mundial em energia renovável
Brasil conta com mais de 1,5 mil usinas de pequeno, médio e grande porte que são responsáveis por 64% da produção de eletricidade do país
17 MAI 2024 - 12H32 • Por Wilson LopesReferência mundial em hidreletricidade sustentável, em integração entre dois povos e na engenharia moderna, a usina Itaipu Binacional comemora 50 anos de sua fundação (17/05) e 40 anos de produção (5/05), atingindo 3 bilhões de megawatts-hora de energia acumulada.
Segundo o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Enio Verri, “nenhuma outra hidrelétrica no mundo chegou nem perto dessa marca histórica.” Para ele, a empresa é símbolo de produtividade aliada à gestão social e ambiental, que gera, além de eletricidade, desenvolvimento para as duas nações sócias. “Itaipu é um sonho de integração que se tornou realidade. Pelo empenho de brasileiros e paraguaios, ela fornece energia, move dois países e cuida da natureza e das pessoas de sua área de influência como nenhuma outra no mundo. Há meio século, é um exemplo de que isso é possível”, afirmou.
A fundação de Itaipu foi em 17 de maio de 1974, dia em que foram empossados o Conselho de Administração e a Diretoria Executiva, com formação semelhante nos dois lados, brasileiro e paraguaio. A posse foi em solenidade no Hotel das Cataratas, instalado dentro do Parque Nacional do Iguaçu.
Na primeira reunião do Conselho de Administração, realizada em Assunção, em 3 de junho de 1974, foi criada uma comissão especial para redigir o Regimento Interno de Itaipu, apresentado e aprovado em reunião extraordinária em 23 de junho daquele ano, também em Assunção.
8 mil casas para trabalhadores
Nessa mesma época, enquanto era processada a concorrência das empreiteiras que iriam executar as obras civis de Itaipu, pequenas firmas eram preparadas para fazer as obras viárias de acesso à futura usina, além de vilas residenciais e toda a infraestrutura de assistência escolar e de saúde, entre outras necessidades básicas. Paralelamente, eram adquiridos no exterior equipamentos de construção não existentes no Brasil e no Paraguai à época.
O plano previa a construção de 8 mil casas para os trabalhadores, 4 mil na margem esquerda, em Foz do Iguaçu, e 4 mil na margem direita, nas cidades paraguaias de Porto Presidente Stroessner (hoje Ciudad del Este), Hernandarias e Porto Presidente Franco.
No segundo semestre de 1974, foi construído um acampamento pioneiro na área da futura usina, com as primeiras edificações para escritório, almoxarifado, refeitório, alojamento dos trabalhadores e posto de combustíveis. Tudo começava a ser preparado para a leva de trabalhadores que viriam a ser contratados pelos consórcios de empresas responsáveis pelas obras civis e pela fabricação e montagem dos equipamentos da usina.
Verdadeiros conglomerados de empresas seriam os grandes empregadores durante a construção da usina, que mobilizaria milhares de trabalhadores do Brasil e do Paraguai, atraídos pelas notícias de que as obras gerariam empregos em abundância pelos próximos anos. O consórcio Unicon, por exemplo, chegou a contratar mensalmente, em média, mais de 5 mil trabalhadores, entre o final da década de 1970 e o início dos anos 1980, quando as obras chegavam a seu pico.
Em determinado momento, no ritmo de construção cada vez mais frenético, Itaipu chegou a abrigar em seu canteiro cerca de 40 mil trabalhadores, mais do que toda a população de Foz do Iguaçu da época. Mas a cidade se expandia também rapidamente. A população passou de 28.597 habitantes, em 1974, para 112.594, em 1985, conforme dados do Ipardes.
Água para a Vida
Desde que passou a gerar energia, Itaipu tornou-se fundamental para o desenvolvimento do Brasil e do Paraguai. Mas, a par da produção, que chegou a bater sucessivos recordes mundiais, a usina ganhou o reconhecimento e respeito público, no Brasil e no exterior, por suas práticas sociais e ambientais.
Entre os reconhecimentos internacionais recebidos pela usina estão: o prêmio pela melhor prática de gestão de água do mundo, intitulado Água para a Vida, da ONU; o título de Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA), concedido pela Unesco; o primeiro lugar no Benchmarking Brasil com o programa Plantas Medicinais; Prêmio Eco Sustentabilidade, da Amcham Brasil; Childhood Brasil, pelo combate à exploração de menores; Business for Peace Award, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); Prêmio Pintou Limpeza, pela responsabilidade socioambiental; Americas Award, pela sustentabilidade ambiental; Prêmio ANA, da Agência Nacional de Águas; e o Clean Tech & New Energy, concedido pelo The New Economy.
Energias renováveis
Entre as principais fontes de energias renováveis, estão a solar, biomassa, eólica, hidrogênio e a hidrelétrica. Na usina hidrelétrica, a energia é gerada pela força da água. Por ser um país continental e com diversidade ambiental, principalmente dos recursos hídricos, o Brasil conta com mais de 1,5 mil usinas de pequeno, médio e grande porte.
A força das águas dessas usinas é responsável por cerca de 64% da produção de eletricidade no Brasil. A energia gerada em hidrelétricas é considerada uma das mais seguras e limpas que existem.
Mas afinal, como funcionam as hidrelétricas?
Atualmente, o país possui três das maiores Usinas Hidrelétricas do Mundo (Tucuruí, Belo Monte e Itaipu), de acordo com The International Energy Agency Technology on HydroPower (IEA/IHA).
Itaipu é capaz de gerar 14 gigawatts (GW) – por se tratar de um empreendimento em parceria com o Paraguai, o Brasil tem direito a 50% desse total, 7 gigawatts -, Belo Monte tem uma potência de 11,2 GW e Tucuruí entrega 8,5 GW.
A usina de Belo Monte é a grande hidrelétrica mais recente, com construção iniciada em 2011 e início das operações a partir de 2016.
A matriz elétrica do Brasil é cerca de 90% de fontes renováveis, além de ser uma das mais diversificadas do mundo. A matriz energética chega a quase 50%, em comparação ao resto do mundo.
A água que dá a vida também afoga
Itaipu, que, em tupi, quer dizer “a pedra que canta”, foi construída no Rio Paraná, na divisa do Brasil com o Paraguai. À época, Foz do Iguaçu era uma cidade com apenas duas ruas asfaltadas e cerca de 20 mil habitantes, em dez anos, a população passa para 101.447 habitantes. Em 20 de outubro de 1978, 58 toneladas de dinamite explodem as duas ensecadeiras que protegiam a construção do novo curso. Em 1980, o transporte de materiais para a Itaipu Binacional mobilizou 20.113 caminhões e 6.648 vagões ferroviários. A primeira roda da turbina, com 300 toneladas, saiu de São Paulo em 4 de dezembro de 1981 e chegou ao canteiro de obras somente em 3 de março de 1982. As obras da barragem chegam ao fim em outubro de 1982. O fechamento das comportas do canal de desvio, para a formação do reservatório da usina, dá início à operação Mymba Kuera (que em tupi-guarani quer dizer “pega-bicho”). A operação salva a vida de 36.450 animais que viviam na área a ser inundada pelo lago. Devido às chuvas fortes e enchentes da época, as correntezas do Rio Paraná levaram 14 dias para encher o reservatório. A lâmina de água soma 135 mil hectares, ou quatro vezes o tamanho da Baía da Guanabara. Em 5 de novembro de 1982, com o reservatório já formado, os presidentes do Brasil, João Figueiredo, e do Paraguai, Alfredo Stroessner, acionam o mecanismo que levanta automaticamente as 14 comportas do vertedouro, liberam a água represada do Rio Paraná e, assim, inauguram oficialmente a maior hidrelétrica do mundo, após mais de 50 mil horas de trabalho. Moradores de Guaíra realizam protestos e artistas prestam homenagem aos saltos que acabam encobertos pelo reservatório. Ansiosos por se despedir das Sete Quedas, 32 turistas morrem em janeiro de 1982 com a queda de uma passarela sobre o rio. Ao longo da faixa de 170 quilômetros, submersos entre Foz do Iguaçu e Guaíra, 8.519 propriedades urbanas e rurais são alagadas na margem brasileira, e os donos indenizados. O município de Guaíra passa a receber royalties da Itaipu pelo alagamento.
Com informações, Itaipu Binacional e Ministro de Minas e Energia (MME).
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