"A terra é plana, vacinas provocam autismo e a cura do câncer já foi descoberta"
Pesquisa aponta que muitos brasileiros continuam excluídos da ciência e exilados da cidadania científica
27 AGO 2024 - 08H00 • Por Wilson LopesNa sua casa, na sua família, no seu trabalho, na sua igreja, no seu grupo de amigos ou em qualquer lugar que você frequente você encontrará pessoas que acreditam que a Terra é plana, que existem curas para o câncer que foram escondidas do público por causa de interesses comerciais, que os seres humanos não evoluíram de outros animais, que os signos do horóscopo influenciam na personalidade das pessoas e que algumas vacinas podem causar autismo.
Certos, errados ou incompreendidos, eles estão no meio de nós e foram contabilizados pela pesquisa ‘Percepção pública da C&T no Brasil – 2023’, do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), uma associação civil sem fins lucrativos supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Na pesquisa, foram avaliadas algumas crenças específicas dos brasileiros, algumas das quais, inclusive, relacionadas à desinformação.
O relatório aponta que, “com o crescimento no consumo de informação pelas mídias sociais, a comunicação científica deixa de ser uma prática exclusivamente institucional (de universidades, pesquisadores, órgãos públicos) e é realizada também por outros atores que também ganham relevância e visibilidade nesses espaços.”
Contudo, para Yurij Castelfranchi, professor associado do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os dados da pesquisa indicam que há no Brasil “pessoas excluídas da ciência” ou “exilados da cidadania científica”, pois o levantamento indica desigualdade no acesso ao conhecimento. “O interesse em C&T tende a se modificar em função da região de moradia, da idade, da renda e do tipo de participação política dos entrevistados. Isto é, seu valor é maior nas regiões Norte e Sul; cai fortemente com a maior idade; ao crescer a renda, o interesse tende a crescer; e seu valor aumenta de acordo com aqueles que dizem participar de greves, manifestações, abaixo-assinados ou outras formas de manifestação política.”
Desinformação e fake news
Ao observar a confiança percebida pelo público da pesquisa em relação às fontes de informação, há uma tendência em buscar validação por meio de múltiplas fontes. Ao menos 40% dos entrevistados afirmaram que só acreditam em uma informação se ela for corroborada por outras fontes, independentemente da natureza da fonte original. Esse percentual é maior quando se trata de empresas
privadas como fonte de informação, chegando a 62,3%.
Os brasileiros tendem a achar que a informação, em geral, é verdadeira quando são provenientes de pessoas ou instituições que eles admiram (42,3%), enquanto suspeitam da veracidade das informações provenientes de pessoas ou instituições das quais discordam (45,6% suspeitam que são falsas).
Quando se trata do compartilhamento de fake news, cerca de 36,5% dos entrevistados admitem já ter compartilhado informações falsas com amigos, parentes ou na internet (independentemente de suspeitar ou não se a informação era falsa). Em contrapartida, a maioria dos entrevistados (61,8%) afirma que nunca compartilhariam informações caso não tivessem certeza de sua veracidade. Esse comportamento evidencia uma consciência na maioria do público sobre a importância da verificação de informações antes de compartilhá-las, contribuindo para diminuir a propagação de fake news.
Acesse a pesquisa Percepção pública da C&T no Brasil – 2023>>