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Transamazônica, a estrada sem fim...

Conhecida como a pior rodovia do Brasil, BR-230 ultrapassa cinco décadas sem ser concluída

6 NOV 2024 - 09H00 • Por Wilson Lopes
A conclusão da BR-230 esbarra em questões políticas, ambientais e judiciais

O Programa de Integração Nacional (PIN), criado pelo general Emílio Garrastazu Médici durante seu mandato presidencial (1969/1974), visando ocupar terras na região Amazônica por meio da migração de nordestinos, que viviam assolados pela seca, foi o pretexto para a construção de uma obra que até hoje não chegou ao seu fim. 

Bandeira do regime militar para propagandear o ‘país que vai para a frente’, ao lado da Ponte Rio-Niterói e da Usina Hidrelétrica de Itaipu, a Rodovia Transamazônica (BR-230) foi lançada oficialmente em 09/10/1970 e inaugurada inacabada em 27/08/72.

Bandeira do regime militar para propagandear o ‘país que vai para a frente’, a Rodovia Transamazônica (BR-230) foi lançada oficialmente em 09/10/1970

O seu traçado original, que previa cerca de 8.00km, ligando o Oriente ao Ocidente (Atlântico ao Pacífico), cruzando a América do Sul do Brasil até Peru e Equador, foi alterado, em princípio, para culminar na cidade de fronteira de Benjamin Constant, no Amazonas. Mas acabou encurtando mais ainda, restando 4.260km em território nacional, entre Cabedelo, na Paraíba, e Lábrea, no Amazonas.

Destes, conforme o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), 1.753km (41%) ainda não têm asfalto. O que torna o tráfego no período de chuvas (outubro a março) um caos anunciado, pois a rodovia recebe um intenso fluxo de veículos de carga para o escoamento da produção da região (arroz, cacau, feijão, milho, borracha, castanha-do-pará, minerais e agropecuária). 

Monumento que marca o início da construção da rodovia, conhecido como “Pau do Presidente”, em Altamira (PA)

Danos ambientais

A conclusão da obra esbarra em questões políticas, ambientais e judiciais. O DNIT, por exemplo, foi multado em R$ 10 milhões por danos morais coletivos aos índios Tenharim e Jiahui, que vivem nas proximidades do município de Apuí, no sul do Amazonas. A decisão é da Justiça Federal e foi baseada em ação do Ministério Público Federal no estado (MPF/AM) que apontou graves danos ambientais causados ao território e ao modo de vida tradicional das etnias por obras na BR-230.

Na sentença, a juíza Jaiza Fraxe também determina que a autarquia recupere as áreas degradadas nas terras indígenas desses povos e a vegetação das margens de igarapés e rios que foram destruídas pela construção da rodovia. Além disso, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) também deverá aplicar uma multa ao Dnit.

Na ação, o MPF/AM argumentou que a empresa contratada pelo Dnit em 2008 realizou obras sem licenciamento ambiental entre os quilômetros 400 e 619, área que abrange parte da área indígena Tenharim Marmelo. O órgão também mencionou um relatório de fiscalização do Ibama de 2009, que constatou que a construção teria facilitado a exploração de jazidas de cascalho e a retirada ilegal de madeira da área de proteção para reconstrução das pontes.

O processo de demarcação da Terra Indígena Tenharim Marmelo, onde vivem quase mil indígenas, foi concluído em 1996. Já a homologação da Terra Indígena Jiahui, que abriga aproximadamente 100 pessoas, ocorreu em 2004. O DNIT pode recorrer da sentença. 

1.753km (41%) ainda não têm asfalto, o que torna o tráfego no período de chuvas (outubro a março) um caos anunciado

Crime e desenvolvimento

Em entrevista ao programa Revista Brasil, o secretário-executivo da Associação das Rodovias Transamazônica, Santarém Cuiabá e Região Oeste do Pará, Aprígio Pereira da Silva, explica que a filosofia de preservação que existe hoje não existia no passado. “Na época, derrubar uma árvore, uma castanheira, era símbolo do desenvolvimento e não de crime”.

Opinião compartilhada pelo diretor de Infraestrutura Rodoviária do DNIT, Luiz Antônio Garcia. “Antigamente, o mote era conquistar, ocupar a Amazônia. Hoje, o mote é preservar a Amazônia”, conclui.

Várias unidades de conservação estão sendo criadas ao longo da rota da rodovia em um esforço para reprimir desmatamentos e para o manejo sustentável das florestas, como o Parque Nacional Mapinguari, a Floresta Nacional de Balata-Tufari, a Floresta Nacional de Humaitá, o Parque Nacional dos Campos Amazônicos e o Parque Nacional do Juruena.

83 municípios

A Transamazônica atravessa sete estados (Paraíba, Ceará, Maranhão, Tocantins, Piauí, Pará e Amazonas), corta 83 municípios e passa por três ecossistemas. 

Paraíba


Ceará


Piauí


Maranhão


Tocantins


Pará


Amazonas

Com informações, Agência Brasil, Wikipedia.

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