Quer combater o racismo? Fundo Brasil apoia com R$ 50 mil
Edital 'Enfrentando o Racismo a Partir da Base' selecionará 25 projetos para receber o recurso
14 FEV 2024 - 09H55 • Por Wilson LopesSeguem abertas até dia 25 de março as inscrições para o edital ‘Enfrentando o Racismo a Partir da Base’, uma iniciativa do Fundo Brasil, com parceria da Warner Music Group/Blavatnik Family Foundation Social Justice Fund e Fundação Ford.
O edital é destinado a organizações, coletivos e movimentos da sociedade civil que desenvolvem projetos de combate ao racismo no país. Ao todo, serão doados R$ 1,25 milhão, sendo até R$ 50 mil para 25 organizações. Os resultados serão divulgados a partir do dia 21 de maio.
O tema do racismo é considerado prioritário para o Fundo Brasil desde sua criação, em 2007. Já no primeiro edital de apoio a projetos, lançado naquele mesmo ano, a fundação apoiou quatro iniciativas desenvolvidas por organizações fundadas e lideradas por pessoas negras.
O edital Enfrentando o Racismo a Partir da Base, criado em 2018 para fortalecer organizações que enfrentam o racismo em suas variadas formas e propõem caminhos para um país com mais justiça racial, permitiu um olhar para essa causa de maneira mais detalhada.
“A mobilização da população negra tem sido fundamental para a democracia brasileira, e os dados e a realidade mostram isso de forma incontestável”, disse Allyne Andrade, superintendente adjunta do Fundo Brasil.
Segundo a superintendente, os números da violência e da exclusão ainda são alarmantes, mas também há avanços. “Desde 2019, estudantes negros são maioria entre os matriculados em instituições federais de ensino superior, graças à política de cotas. O número de parlamentares negras e negros vem crescendo. Tudo isso é resultado de décadas de pressão das pessoas negras organizadas em movimentos sociais. A missão do Fundo Brasil é apoiar esse movimento, engrossar esse caldo social na busca por mudanças”, sustentou Allyne.
Em cinco anos, foram doados mais de R$ 2,6 milhões para 50 coletivos e grupos sem fins lucrativos, de todas as regiões e estados brasileiros, que trabalham diretamente em seus territórios e comunidades, para promover justiça racial, combatendo as diversas formas de racismo. Os vencedores foram selecionados por três editais Enfrentando o Racismo a Partir da Base.
Transformação social
Os resultados do trabalho dos coletivos apoiados nos editais do Fundo Brasil revelam como as ações de cada um desses grupos são capazes de transformar realidades locais, constituindo elemento fundamental para compor um movimento amplo de transformação social.
No Rio Grande do Norte, o Coletivo Cirandas oferece assessoria jurídica para comunidades tradicionais. Além de litigância para proteção territorial, recentemente lideranças quilombolas em risco de vida na Bahia conseguiram proteção emergencial com apoio do Cirandas. O coletivo contou com recursos do Fundo Brasil para se estruturar.
No último ano, o Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu foi lançado em Salvador (BA) também com recursos doados pelo Fundo Brasil. O instituto leva o nome da mãe de santo e matriarca do Ilê Aiyê, primeiro bloco afro do Brasil e uma das expressões culturais do carnaval, e tem o objetivo de consolidar a atuação da comunidade na promoção dos direitos de mulheres negras da capital baiana, além do combate ao racismo religioso.
Outro exemplo é o Quilombo dos Teixeiras, do Rio Grande do Sul, que obteve vitória significativa para a valorização da cultura negra e quilombola no país. Com o recurso para fortalecimento institucional recebido do Fundo Brasil, a comunidade organizou a primeira exposição de um acervo quilombola no Arquivo Histórico do Estado, em Porto Alegre.
Espaços de formação
Neste quarto edital Enfrentando o Racismo a Partir da Base os objetivos são prover apoio financeiro e proporcionar espaços de formação e articulação entre organizações lideradas por ativistas negros que atuam no combate ao racismo nos seguintes eixos:
- Na defesa dos direitos de mulheres negras e da população negra LGBTQIA+, grupos que vivenciam processos de discriminação e violência com base na intersecção de gênero, raça e classe;
- No combate ao genocídio da juventude preta, pobre e periférica, promovida de forma sistemática pelo Estado através de seus agentes, assim como do sistema prisional que encarcera e desumaniza homens e mulheres negros;
- Na defesa das comunidades e lideranças quilombolas vítimas de violência que tem suas vidas ameaçadas em razão da luta pelo reconhecimento e titulação de seus territórios;
- Na defesa da liberdade religiosa de casas e terreiros de matriz afro-brasileira em praticar sua fé, considerando o caráter racista da violência que aflige estas comunidades.
O Fundo Brasil é uma fundação independente que apoia grupos de defesa e promoção dos Direitos Humanos no Brasil, envolvendo a busca por justiça racial e de gênero, a luta por direitos dos povos indígenas, de populações quilombolas e tradicionais, por justiça climática e socioambiental na Amazônia e, também, fora da região.
São objeto, ainda, do Fundo, a luta por direitos de crianças e jovens, de pessoas LGBTQIA+, de trabalhadores rurais e precarizados, de comunidades impactadas por obras de infraestrutura e empreendimentos urbanos, de vítimas da violência de Estado e seus familiares, e a luta contra o encarceramento em massa e a tortura no sistema prisional, entre outras.
Em seus anos de existência, o Fundo Brasil já apoiou mais de 1.300 projetos, superando os R$ 50 milhões em doações.
Com informações Alana Gandra, Agência Brasil.
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