Muitos mexicanos e cidadãos de outros países, incluindo brasileiros, arriscam a vida tentando atravessar ilegalmente a fronteira que separa o México dos Estados Unidos, em busca de uma vida melhor na ‘América’.
Grande parte desse contingente se arrisca no Rio Grande (para os americanos) ou Rio Bravo (para os mexicanos), nos 2.000km de leito que limitam os dois países. A organização Anjos da Fronteira estima que mais de 10 mil pessoas já morreram tentando completar o trajeto, desde 1994.
E foi nas margens desse rio que ocorreu um fato inusitado. Após inúmeros embates entre americanos e mexicanos sobre o limite da fronteira, o Tratado de 1884 estabeleceu que o curso das águas seria o divisor natural entre o estado mexicano de Tamaulipas e o estado americano do Texas.
Mas, por conta da exploração agrícola na região, o curso das águas na região foi alterado diversas vezes, ora deixando a pequena Río Rico do lado sul, ora do lado norte do rio.
À certa altura, em virtude da promulgação da Lei Seca no território americano, em 1920, os americanos passaram a considerar Río Rico como território mexicano e, por isso, livre do cerco ao álcool. Foi o auge da cidade, com cassinos, hotéis, teatros e muito dinheiro em circulação.
Com o fim da Lei Seca em 1933, Río Rico enfrentou uma vigorosa decaída econômica, voltando a ser apenas uma pacata cidade de fronteira.
Desde então, a população local se esqueceu que era cidadã dos Estados Unidos. Até que em 1967 o professor de geografia James Hill, que nascera em Río Rico, publicou uma extensa pesquisa sobre o lapso de memória, que ficou conhecido como ‘o caso dos americanos perdidos’.
Foi o estopim para uma infinidade de mexicanos entrarem com pedido de reconhecimento de nacionalidade americana por também nascerem em Río Rico, incluindo muitos que estavam com processo de deportação dos Estados Unidos.
Para estancar a sangria, o governo dos Estados Unidos cedeu oficialmente a faixa de terra ao México e aceitou o pedido de reconhecimento de cidadania de 250 pessoas.
Atualmente, Río Rico conta com 170 habitantes, segundo o censo de 2020, e a sua fronteira com os Estados Unidos passou a ser uma das mais vigiadas do mundo.
Com informações da BBC Reel: "A cidade de fronteira que 'esqueceu' que fazia parte dos EUA"