Chegou ao Brasil um livro que já vem marcado e recomendado como daqueles imperdíveis para quem gosta de uma pesquisa aprofundada e interessante, sem que isso se torne maçante.
O livro é ‘Metrópole – A história das cidades, a maior invenção do homem’, do historiador inglês Ben Wilson, que logo em suas primeiras páginas reafirma a mesma convicção do título principal, ao colocar as cidades como o começo de tudo. De tudo mesmo, antecedentes à concepção de países, impérios e reis. Não é pouco.
Não é pouco mesmo, haja vista que o autor nos faz viajar a 4.000 anos antes de Cristo, quando há efetivamente o registro das primeiras aglomerações territoriais que atualmente denominamos justamente de cidades. Apenas por isso, Ben Wilson já avalia como sendo uma das maiores – senão a única – invenção coletiva que o homem teve a iniciativa de engendrar.
Sim, pois são nelas que estão estruturadas e concentradas as condições mínimas de vida humana, muito antes que os primeiros experimentos de hierarquização social a que estamos habituados há bem menos séculos.
Outro aspecto interessante abordado por Ben Wilson é sobre a permanência das cidades através dos tempos, ao contrário dos reis e de seus reinados que não raras vezes vivem momentos de grandes ascensões e enormes quedas. No entanto, as cidades estão lá, desde tempos imemoriais. “As cidades são tenazes”, diz o autor, mesmo que considere que tais oscilações também acabem por atingir lugares históricos como Bagdá, onde foi montada a primeira fábrica de papel do mundo; Alexandria e seu acervo de conhecimento e sabedoria; ou Atenas, berço da filosofia que há séculos propõe mais perguntas do que respostas. Elas, como tantas outras, são permanentes como Roma é eterna e, no entanto, seus grandes ícones ficaram pelo caminho.
Desenvolver uma narrativa tão abrangente e apaixonante, abordando um amplo espectro temporal e geográfico, representa um desafio colossal. Porém, Ben Wilson, valendo-se de sua vasta experiência acadêmica e vivencial, consegue contornar muitos desses obstáculos. Desde Uruk, na antiga Mesopotâmia, até as megacidades contemporâneas como Lagos, na Nigéria, Wilson traça uma narrativa global, embasada em suas experiências pessoais e acadêmicas.
As origens urbanas têm uma conexão intrínseca com ambientes aquáticos, como pântanos e deltas de rios, que fornecem condições favoráveis para o desenvolvimento humano. Esse padrão pode ser observado em diversas civilizações ao redor do mundo, desde a Mesopotâmia até a China e o Egito antigos.
O autor também destaca a resistência e a resiliência das cidades ao longo da história, exemplificada pelo caso de Uruk, que enfrentou tanto invasões bárbaras quanto mudanças climáticas. Lagos, por sua vez, surge como um exemplo contemporâneo de uma metrópole em constante transformação, enfrentando desafios como o crescimento desordenado, desigualdades sociais e infraestrutura precária.
A urbanização continua a crescer em ritmo acelerado, com mais da metade da população mundial vivendo em áreas urbanas. Esse fenômeno implica em desafios e oportunidades sem precedentes para a humanidade, demandando uma abordagem renovada para a vida urbana.
É assim que ‘Metrópole’ oferece uma visão abrangente e perspicaz sobre o papel das cidades na história humana, destacando sua importância como motores de inovação, diversidade e mudança ao longo dos séculos. Vale a viagem.
LUIZ SERENINI
Mestre em Comunicação, professor de publicidade e propaganda, redação publicitária, web publicidade, comunicação sonora. Publicitário, diretor de criação estratégica. Vencedor de premiações nacionais e internacionais em campanhas mercadológicas, institucionais, eleitorais e políticas.